IGUARACY AMANHECE FAMOSA ATRAVÉS DE SEU FILHO ILUSTRE: Há 30 anos Maciel Melo traduz 'sertanidade' em versos e melodias


IGUARACY AMANHECE FAMOSA ATRAVÉS DE SEU FILHO ILUSTRE: Há 30 anos Maciel Melo traduz 'sertanidade' em versos e melodias

 
No ano em que festeja três décadas de carreira, o sertanejo Maciel Melo é homenageado no São João do Recife, lança CD, DVD e autobiografia (Foto: Luna Markman / G1)

Maciel Melo ainda era o "Neguinho de Heleno" quando vendia picolé e engraxava sapato para ajudar o pai Heleno Louro, agricultor e mestre sanfoneiro que animava festas de Iguaraci, no Sertão pernambucano, a 363 km do Recife. Trocou o Rio Pajeú pelo São Francisco, em Petrolina, trabalhando em escritórios. Aos 20, decidiu abraçar a carreira de músico, considerada "vagabundice" no interior, e rumou para a capital. Esse é o marco inicial da carreira deste caboclo sonhador, que está completando 30 anos, celebrados com lançamento biografia, disco, DVD e uma homenagem do São João do Recife. Ter a música "Rainha" na trilha da novela global "Flor do Caribe" também é um presente.

A canção é uma homenagem à mãe dele, Maria de Lourdes, escrita há anos, gravada apenas no disco "Sem
ouro sem mágoa" (2009). "Oh Maria Lourdes da Labuta/ Em Sumé foste doce, amarga e bela/ Paraíba foi tua passarela/ Pernambuco te trouxe a sedução/ O destino entregou tua missão/ Onze itens [filhos] a ti foi destinado/ E a lei que constitui o teu reinado/ Foi escrita com a tinta do perdão", diz a letra. Já "A poeira e a estrada" é o nome da biografia, escrita pelo próprio Maciel Melo durante os últimos três anos, que será lançada na segunda-feira (17), no Paço Alfândega, no Bairro do Recife, às 19h, junto com uma exposição sobre a carreira do artista.


DVD gravado em 2012 será lançado este ano
(Foto: Luna Markman / G1)
Maciel gosta de escrever e acha que ninguém melhor que ele pode contar o que viu, ouviu e viveu. "Eu sempre escrevia e guardava textos sobre assuntos que giravam em torno da geografia cultural e política do Pajeú, então resolvi reunir num livro. É a história do Neguinho de Heleno que saiu para o mundo para vencer, e fui floreando aqui e ali, romanceando passagens. Não tem uma ordem linear", explicou em entrevista ao G1, durante passeio de carro por mais de hora, amansando o trânsito bravo do Recife.

Um CD e um DVD homônimo ao livro devem ficar prontos até julho. O DVD foi gravado em 2012, no Teatro da Boa Vista, e contou com a participação de Chico César, Jessier Quirino, Jorge de Altinho, entre outros. O disco "Minha metade", lançado este ano, é comemorativo aos 30 anos de carreira. São 14 faixas, sendo duas regravações de Luiz Gonzaga, onde Maciel canta com Alceu Valença ("Assum preto") e Zeca Pagodinho ("Qui nem jiló"). As outras são xotes, baiões, toadas e canções inéditas, com participações de Zé Ramalho, Fagner, Geraldo Azevedo, Elba Ramalho, Dominguinhos e Quinteto Violado.

Este último grupo pernambucano, inclusive, foi quem batizou Maciel Melo como compositor, ao gravar a música "Erva doce", em 1985. A banda fazia enorme sucesso naquela época, e a canção estourou. O artista já morava no Sudeste do País. É que depois do Recife, ele mudou-se para São Paulo, onde compôs "Caboclo sonhador", em 1982. "Ela é uma espécie de carta musicada para minha família. Estava no centro financeiro do País para tentar ser artista, ninguém ia mudar minha cabeça", contou.


Mantenho viva a ‘sertanidade’ na minha obra, as tradições e costumes do povo como temas, a aridez nas canções (...) Tem gente que é alienada, se for falar de política some, mas escuta se for música. Então essa é uma maneira de chegar aos ouvidos dos desatentos"
Maciel Melo, cantor e compositor

Os primeiros versos da letra mandam exatamente esse recado: "Sou um caboclo sonhador/ Meu senhor, viu?/ Não queira mudar meu verso/ Se é assim não tem conversa/ Meu regresso para o brejo/ Diminui a minha reza". Mas a saudade de casa estava no matulão do sertanejo: "Mergulhado nos becos do meu passado/ Perdido na imensidão desse lugar/ ao lembrar-me das bravuras de Neném [irmã mais velha de Maciel]/ perguntar-me a todo instante por Baía [irmã]/ Mega e Quinha [irmãos], como vão? tá tudo bem?/ Meu canto é tanto quanto canta o sabiá".

A composição só foi descoberta dez anos depois por Flávio José, que estava no auge da carreira e a gravou. Fagner também, popularizando-a ainda mais em todo o Brasil. O cantor cearense afirmou que a canção era um divisor de águas, ao recriar o forró nordestino na década de 1990. O diferencial de Maciel Melo eram as melodias habilidosas e as temáticas novas. "Eu sempre tive preocupação grande com a poética, a qualidade dos arranjos. Em 'Caboclo sonhador', por exemplo, uso palavras que não são rotineiras no forró. A minha intenção era fazer algo que não fosse banal, que botasse as pessoas para pensar e questionar", falou.

Esse talento foi reconhecido desde cedo, quando gravou o primeiro disco, "Desafio das léguas", em 1989, já com participações luxuosas de Vital Farias, Xangai, Décio Marques e Dominguinhos. Na época, ele morava em Salvador e estava envolvido com a musicalidade local. "Foi num show lá que conheci Dominguinhos e perguntei se dava para colocar a sanfona dele no meu disco, e marquei para o outro dia. Achava que ele nem ia lembrar, mas quando cheguei no estúdio ele estava lá embaixo, me esperando. Foi quando vi a grandeza dele, a genialidade, simplicidade, vai deixar um legado enorme para nós", lembrou.


O Santa Cruz e Luiz Gonzaga, duas paixões de Maciel Melo
(Foto: Luna Markman / G1)
Maciel Melo faz letra e melodia. Tem centenas músicas no papel e quase 200 gravadas. Paulinho da Viola e Djavan são intérpretes ainda desejados. Na música universal, urbana, elegeu Chico Buarque como compositor favorito. Já o poeta da música regional, para ele, é Zé Dantas, um dos grandes parceiros de Luiz Gonzaga, nascido também no Sertão do Pajeú, em Carnaíba. "A música que eu faço é a que Gonzaga gostava de cantar. Até pelo fato de eu ser discípulo dele e ter saído do Sertão com a minha personalidade formada, mantenho viva a ‘sertanidade’ na minha obra, as tradições e costumes do povo como temas, a aridez nas canções. Acho que 20% das minhas letras ele gravaria", palpita.

Homenagem
Iguaraci foi o berço de tudo, onde o Neguinho de Heleno ouviu os primeiros sons da sanfona do pai, das violas dos repentistas, a poesia dos cantadores. Quem chega lá vê na entrada da cidade a placa que diz "Terra de Maciel Melo". Agora, é a vez de o Recife, cidade onde mora, celebrar o artista. "Fico muito feliz com o reconhecimento dos meus conterrâneos. E quando fui indicado para ser o homenageado do São João aqui fiquei até meio silencioso, por causa da responsabilidade de ser escolhido entre tantos, pois Pernambuco é o celeiro do Nordeste. Estou honrado porque isso é prova que meu trabalho é útil."


Sabendo que sua música vai longe, Maciel não deixa de usá-las como protesto, como fez em
"Pingo d'água" e "Meninos do Sertão", esta última gravada em 2000 por Zé Ramalho. "Acho que a função da gente não é só entreter, mas denunciar, questionar. Tem gente que é alienada, se for falar de política some, mas escuta se for música. Então essa é uma maneira de chegar aos ouvidos dos desatentos", comentou. As letras do sertanejo podem ser duras, mas amolecem os quadris, são feitas para dançar. Ele muda arranjos e até usa guitarra elétrica, mas nunca fere a essência do que acredita ser o verdadeiro forró. "Pode me chamar de cafona/ Eu gosto é de sanfona/ Eu gosto é de forró", canta seus versos de "O Velho arvoredo".

Serviço
Lançamento do livro "A Poeira e a Estrada", de Maciel Melo
Segunda-feira (17), às 19h
Paço Alfândega - Rua da Alfândega, 35, Bairro do Recife

Maciel Melo, durante show que virou DVD (Foto: Divulgação)g1

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