Dois canteiros de obras já receberam viveiros de mudas, que servirão de base para os trabalhos de recuperação. O objetivo é criar um sistema eficiente, de baixo custo e simples, que possa ser replicado ao longo da construção.
Cabrobó é o local ideal para iniciar o processo em razão do cronograma de conclusão do projeto – no município, a construção já se encontra em fase final de testes. O trabalho servirá de base para recuperações da caatinga em direção ao interior de Pernambuco, Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte.
O trabalho dos biólogos do Nema começou em 2008, com o monitoramento da flora local e o resgate de germoplasmas (sementes, estacas e plantas vivas que formam um banco genético da vegetação nativa). Os pesquisadores registravam as espécies, a interação entre elas e marcavam árvores adultas saudáveis capazes de se tornarem matrizes dessa fonte de variabilidade genética. (continua...)“Árvores da caatinga são espécies que já superaram várias secas e nós buscamos, preferencialmente, as sementes dessas plantas”, explica o coordenador do núcleo, Renato Garcia Rodrigues.
Desde então, as sementes são submetidas a beneficiamento (limpeza e polimento) e acondicionadas em uma câmara fria, para formar um banco de reservas na Univasf. Já as plantas vivas e as estacas são transferidas para os viveiros de mudas dos canteiros de obras do projeto. Essas mudas são colocadas em covas, em terreno com a topografia moldada de forma a acumular água.
As espécies nativas que vão recuperar a área afetada foram selecionadas com respeito às ocorrências e simbiose verificadas na natureza, além de estratégias para atrair polinizadores e afastar inimigos naturais – como o bode, criado de forma extensiva na região.
Esse é apenas o começo do trabalho dos biólogos, que continuará após a conclusão das obras do Projeto de Integração do São Francisco. “A recuperação de uma mata nativa é um projeto de longo prazo, mesmo com nosso apoio para acelerar a ação da natureza”, diz Rodrigues.
O projeto
Orçado em R$ 8,2 bilhões, o Projeto de Integração do Rio São Francisco prevê recursos de quase R$ 1 bilhão (quase 12% do total) para programas básicos ambientais, em conformidade com as condicionantes do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).
Trata-se do mais significativo volume de investimentos nas questões socioambientais e arqueológicas do semiárido setentrional. As ações desenvolvidas pelos 38 programas ambientais do projeto possibilitam o conhecimento aprofundado do bioma caatinga, não só no âmbito da fauna e da flora, mas também em diversos aspectos econômico-sociais, arqueológicos e na melhoria de condições de vida de comunidades indígenas e quilombolas na área de impacto do projeto.
O projeto é a mais relevante iniciativa do governo federal dentro Política Nacional de Recursos Hídricos. O objetivo é garantir a segurança hídrica para 390 municípios no Nordeste Setentrional, onde a estiagem ocorre frequentemente, beneficiando mais de 12 milhões de habitantes.