O "Véáco" na fala do matuto


O "Véáco" na fala do matuto

Dia desses entrei no sertão adusto do Ceará e ouvi palavra que fazia tempo não ouvia: velhaco. O matuto, na sua simplicidade, não pronuncia assim. Diz “véáco”, pro masculino, e “véáca”, pro feminino. No Aurélio, a descrição primeira da palavra velhaco é o “que ludibria de propósito ou por má índole”. O Houaiss vai na mesma linha, diz que velhaco é o “que propositalmente engana, ludibria; enganador (um candidato que promete e não cumpre)”.
Velhaco: candidato que promete e não cumpre. Se velhaco é isso, candidato que promete e não cumpre, a gente pode garantir certeiramente, pelos muitos compromissos assumidos e não cumpridos por eleitos, que a velhacaria tomou conta da política brasileira faz tempo.
Porém na sabedoria popular, a palavra velhaco (véáco) ou velhaca (véáca) é usada também pro indivíduo que é esperto e não cai em armadilhas ou tramoias que lhe aprontam. Se diz que, depois de ser enganado muitas vezes, o sujeito vai ficando velhaco (véáco). De tal sorte, que velhaco fica também o eleitor quando aprende a se defender de candidatos que prometem mundos e fundos.

Bunda Véáca 
...
Pra terminar, finalmente,
Pelo Leonardo contada,
Uma anedota somente
Vou repetir, mas rimada: 

Quando ia dar a terceira,
pôs-se o matuto a gingar,
negando a parte traseira
à seringa de injetar...

Mas o doutor, precavido,
lhe observa maneiroso:
- Não se faça esmorecido!
Você que é tão corajoso.

Retire o medo da ideia!
- Medo, Doutor, não me ataca:
É o diabo da bunda véia
que está ficando véáca!

Poesia de José Carvalho

Tem uma estória do escritor cearense Leonardo Mota (Leota) bem adequada ao tema. Diz o Leota que certo doutor médico teve de aplicar uma série de injeções de mercúrio em um matuto. Creio que não se dá mais injeção de mercúrio hoje em dia, dado que o mercúrio é um elemento químico altamente tóxico. Mas o fato é que estamos no passado, no tempo de Leota, e a bunda do matuto estava apta a receber mercúrio injetado. E o matuto foi recebendo no primeiro dia, depois no segundo dia, as tais injeções dolorosíssimas. Chegado o terceiro ou quarto dia da aplicação, quando o clínico procurava lancetear a bunda do cristão infeliz, este encolhia as nádegas num nervosismo que não havia antes.
Sentindo a dificuldade de aplicar a injeçao, o médico perguntou ao matuto que, a seguir, respostou:
“- Que história é esta? Você está com medo?
- É medo não, seu Doutô... É o diabo da bunda que está ficando véáca....”

George Alberto de Aguiar Coelho
Fonte\: Leonardo Mota (1891-1948). Violeiros do Norte.. Poesia e linguagem do sertão nordestino. Ed. ABC Fortaleza Ltda. 2002. pg. 229.
Renato Sóldon. Verve Cearense, pg. 184. Ed. Autor, 1969. RJ.

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