O amor e a luta de um pai entre as drogas, a pobreza e a microcefalia


O amor e a luta de um pai entre as drogas, a pobreza e a microcefalia

O pedreiro Paulo Rogério Araújo conheceu Maria de Fátima dos Santos, 21, num ponto de prostituição no Recife. Ele, cliente. Ela, moradora de rua desde os 8 anos, usuária de crack e garota de programa. No primeiro encontro, o pagamento pelo serviço e um convite. Paulo chamou Fátima para morarem juntos. Ela relutou. Ele insistiu. Começaram uma relação que tinha tudo para dar errado. Deu certo. Três anos depois, Fátima abandonou os programas, as drogas e o passado. O presente tem nome: Eduarda Vitória, 10 meses, uma das 376 crianças com microcefalia nascidas em Pernambuco. O Dia dos Pais, frisa Fátima, é uma data para celebrar a família e a persistência de seu companheiro em constituir uma família.
“Se não fosse por ele, eu estaria no fundo do poço. Eu sempre pedia a Deus que me livrasse das drogas e me desse uma família. Foi através do meu marido que eu consegui isso. Foi ele quem me mostrou o caminho. Desde que a gente se conheceu ele falou que queria viver comigo e mudar minha vida”, ressalta a mulher, que foi viciada em crack por uma década. “Não me envergonho das coisas que fiz. Me prostituí por causa das drogas, mas sei que dei a volta por cima”, completa.
Desde que os casos de microcefalia começaram a saltar nas estatísticas da Secretaria Estadual de Saúde (SES), as atenções – por razões óbvias – se voltaram para as mães. Outras reportagens versavam sobre pais que estavam abandonando filhos nascidos com a malformação – levantamento do Instituto Baresi revela que 70% dos homens deixam as mulheres quando o bebê nasce com alguma deficiência.
Mas os números não medem histórias como a de Paulo Rogério Araújo. Antes de sua segunda filha nascer, ele trabalhava como servente de pedreiro, lavava carros e carregava fretes no Centro de Abastecimento e Logística de Pernambuco (Ceasa-PE). Largou todos os empregos para ajudar a esposa Maria de Fátima na criação e no tratamento da menina com microcefalia. “Sempre fui trabalhador, mas no momento não estou conseguindo por causa de Eduarda Vitória. Minha mulher não consegue fazer tudo sozinha. Ajudo em tudo”, diz.
Seja nas consultas semanais na Fundação Altino Ventura (FAV), nas terapias na Associação de Assistência à Criança Deficiente (AACD) ou nas idas ao Hospital Universitário Oswaldo Cruz (Huoc), o pai sempre está lá, revezando com a mãe o cansaço e o prazer de embalar a pequena nos braços. “Ela chora muito, espirra muito, tem convulsões. O trabalho é grande, mas a gente junto faz melhor. Minha filha está sempre limpinha e bem cuidada”, orgulha-se.
As condições de vida, no entanto, jogam contra. A família vive do benefício do INSS dado aos pais de bebês com microcefalia – no valor de um salário mínimo e que não é suficiente para pagar as contas. As doações, que eram abundantes quando a microcefalia e a zika ganharam manchetes mundiais, foram ficando cada vez mais raras.
Marido, mulher e as duas filhas moram em um barraco de madeira na Vila Santa Luzia, na Torre, Zona Norte do Recife. Em fevereiro, quando Eduarda Vitória era recém-nascida e o casal ainda assimilava a novidade de uma filha com microcefalia, a tragédia quase bateu à porta. Um incêndio na comunidade destruiu dezenas de barracos. O fogo chegou a menos de 50 metros da casa deles. A fumaça avisou que o pior estava perto.
A família unida é o maior presente de Paulo neste Dia dos Pais, mas o homem também sonha com o futuro em que possa deixar o casebre para botar a filha numa residência digna. “A gente dorme de luz acesa porque no barraco aparece barata, rato, até cobra. Dá medo. Minha filha chora fácil e a situação aqui é difícil. Sonho com uma casinha para elas”. (G1)

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