Adoção: O amor não escolhe idade


Adoção: O amor não escolhe idade

Não é difícil imaginar o que uma criança ou adolescente espera ganhar no Natal. Mas, entre bonecas, carros e bicicletas, há quem sonhe com algo maior: uma família. A Folha de Pernambuco esteve na Casa de Acolhida Estação Feliz (CAF), em Jaboatão dos Guararapes, e conheceu um pouco dos desejos e perspectivas de jovens entre 13 e 17 anos, fora da faixa “ideal” de adoção, e que mantêm a esperança de encontrar suporte para mudar de vida. Por isso, neste período natalino, há uma campanha maior para o Programa de Apadrinhamento do Tribunal de Justiça de Pernambuco
Os motivos que levam crianças e adolescentes a casas de acolhimento são em sua maioria tristes, frutos de uma realidade dura e pesada em que são apresentadas poucas oportunidades de caminhos mais prósperos. São pais que se encontram em situação de vulnerabilidade social sem a menor estrutura para criarem seus filhos e terminam os abandonando - há casos, inclusive, de medidas protetivas para evitar violência e abuso contra estes menores. Datas especiais, como o Natal e Ano Novo, se tornam momentos ainda mais delicados para estes meninos e meninas, que só esperam receber atenção e acolhimento de um lar.
Com histórico de rua e, consequentemente, abandono, o pequeno João*, de 13 anos, quer ser veterinário quando crescer. Adora cavalos e já demonstrou habilidades para trabalhar com a terra também. Informações que foram difíceis de serem tiradas dele, pois a timidez não o deixou que revelasse muito. Respondia as perguntas sempre com a cabeça baixa, mas com um sorriso no canto da boca. Em um momento da conversa revelou que “já sonhou em ser adotado”, como se desacreditasse por completo nessa possibilidade. Quando questionado sobre seus anseios para o Natal, além da bicicleta e do tênis, que quer de presente, ele pensou melhor e respondeu: “Quero ser adotado, quero ter uma família”.
O adolescente chegou ao CAF este ano, mas tem gerado preocupação das assistentes sociais, pois há dificuldades em sua adaptação. Outro ponto que gera cuidado é em relação à educação, João ainda não conseguiu se alfabetizar. “Estamos trabalhando para construir um novo perfil dele para que possa encontrar a família que tanto almeja. Por isso, destacamos o quanto é importante o apadrinhamento destes meninos e meninas. É através desse acolhimento que eles podem ter um suporte maior dentro de um convívio familiar que gere novas perspectivas para o futuro”, declarou a assistente social Fernanda Duarte, que atua nesta unidade desde 2015.
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Após decisão do Conselho Tutelar, ele foi encaminhado para a Casa de Acolhimento Estação Feliz e, em quatro meses, foi apadrinhado por um casal. Desde então, ele tem passado os fins de semana com essa família. “O desenvolvimento de Victor tem sido muito satisfatório. Os padrinhos pagam o plano de saúde, já existe perspectiva de financiarem os estudos dele para que possa ter um reforço maior em sua educação. Apesar de ser novo, ele tem crescido muito enquanto pessoa”, comentou Fernanda.
Esperanças renovadas também para José*, que chegou à instituição em 2015 junto com seus dois irmãos mais novos, mas já tinha passagem por outras unidades de acolhimento. Este será o segundo ano consecutivo que ele passará o Natal com tudo a que tem direito: ceia, árvore de Natal, presentes e, o mais importante, amor e carinho.
A história de José chama atenção porque, mesmo não tendo sido adotado, ele encontra amparo em duas famílias. Seu irmão mais novo, de oito anos, foi adotado em 2016, mas os pais adotivos optaram por não cortar o laço entre eles. Ao contrário, eles se aproximaram de José e decidiram apadrinha-lo afetivamente. Já sua irmã, que vive em outro abrigo, é acompanhada por uma madrinha afetiva, que também decidiu apadrinhar o mais velho. “Gosto muito do convívio com meus tios (seus padrinhos) e estar perto dos meus irmãos. O Natal com eles é muito bom. Quero melhorar, pois tenho o sonho de seguir carreira no Exército”, revelou.
“Esses adolescentes têm um histórico de vida de muito sofrimento. O que desejamos para eles é que essas dores sejam amenizadas. A convivência com os padrinhos e com as famílias que desejam adotá-los, com certeza traz uma esperança maior de futuro, pois eles não têm onde se apoiar fora daqui”, afirmou a psicóloga Larissa Ribeiro, expressando emoção ao relembrar histórias como a de Patrícia*.
De olhar doce e sorriso tímido, Patrícia tem 15 anos e chegou ao CAF recentemente. Ela disse que quer ser Policial Militar para ajudar as pessoas e espera desse Natal, não apenas o tão sonhado celular, mas também o amor de uma família. “O Natal não tem sido tão feliz para mim depois que perdi minha avó, mas tenho esperança de ter uma família. Tenho certeza de que minha vida seria muito mais alegre. Gosto de estudar e quando crescer quero ser Policial Militar e ajudar as pessoas”, relatou a adolescente, que veio de uma vivência fragilizada com a família, após ter perdido também sua mãe.
Ajuda e presentes: Quem desejar fazer doações aos adolescentes da Casa de Acolhimento Estação Feliz, pode entrar em contato pelo número (81) 99225-710 e falar com a coordenadora da instituição, Christiane Campelo, ou procurar diretamente a 1º Vara da Infância e Juventude de Jaboatão para agendar a forma de entrega dos donativos. A preferência é por roupas, livros, eletrônicos (rádios, DVDs de música e filmes etc.) e material esportivo. Já para conhecer a instituição, só é permitida a visita de pessoas cadastradas no Programa de Apadrinhamento, por recomendação da Vara da Infância e Juventude, que objetiva a preservação dos menores. A Casa de Acolhimento Estação Feliz trabalha hoje com 14 adolescentes. “Temos uma equipe muito engajada para que esses adolescentes sejam atendidos em todas as áreas educacional, de saúde, lazer, espiritual. Estamos atentos a formação deles para que possam se posicionar no mundo”, disse a coordenadora.
(* Nomes fictícios)
Estado tem 331 crianças para adoção: Em Pernambuco, há 331 crianças e adolescentes inseridas no Cadastro Nacional de Adoção (CNA), mas os números não batem quando cruzados com os 1.144 pretendentes à adoção também inscritos nesse sistema. Essa disparidade se deve à preferencia dos candidatos por crianças abaixo dos três anos de idade. De acordo com levantamento feito pelo Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE), o Estado saiu na frente de outras localidades do Brasil, em 2016, em relação ao número de adoções tardias (crianças e adolescentes de três a 17 anos), com 66 processos concluídos no total, mas ainda há cerca de 270 jovens à espera de uma família.
A juíza titular da Vara da Infância e Juventude, Christiana Brito Caribé, da Comarca de Jaboatão dos Guararapes, explica que, ao contrário do que muitos pensam, o processo de adoção não é demorado. “O candidato deverá preencher um requerimento de inscrição junto à Vara especializada da sua cidade. São necessários os documentos pessoais, comprovante de residência e renda, atestado de sanidade física e mental e antecedentes criminais, certidão negativa de distribuição cível e ser maior de 18 anos”, disse a juíza.
Após a entrega de toda documentação exigida é iniciado o processo de habilitação do pretendente. Caso haja vistas do Ministério Público sobre o processo, o juiz inicia um estudo do caso junto a Vara da Infância. Com a aprovação, é necessário que os futuros pais e mães passem por um programa de preparação nos aspectos jurídicos, sociais e psicológicos da adoção. Com a habilitação deferida, o candidato poderá ser incluído no Cadastro Nacional de Adoção (CNA) e aguardará ser chamado.
Uma alternativa que tem trazido resultados, principalmente junto aos jovens acima de 10 anos são os Programas de Apadrinhamento. Para os municípios em que não há comarca especializada, há o projeto Pernambuco que Acolhe. O objetivo da ação é oferecer às crianças e adolescentes vínculos de afeto e referencial de vida. “Em dois anos, conseguimos resultados significativos. Cerca de 20% dos jovens que se encontram em instituições de acolhimento, passarão as festividades de fim de ano com padrinhos e madrinhas fora das unidades”, ressaltou a juíza Christiana Caribé.
Em alguns casos, o vinculo criado entre os padrinhos e estas crianças se tornam tão fortes, que o que seria apenas um convívio em curtos períodos, se torna algo muito maior: a adoção concreta. “O que esses adolescentes precisam é de uma referência de vida e de comunidade, para que eles possam ter perspectivas melhores de reconstruir suas vidas”, conclui a juíza.
Resultados: Em Pernambuco, cada comarca especializada possui o seu programa, mas para os municípios que não possuem esse tipo de jurisdição, cabe ao projeto “Pernambuco que Acolhe” fazer o direcionamento do apadrinhamento. Hoje, o projeto possui 21 apadrinhamentos sendo realizados. O Programa Estrela Guia do Recife existe desde 2002. Já foram feitos 382 apadrinhamentos, com 43 adoções.
O Progra­ma Anjo da Guarda, de Jaboatão dos Guararapes, tem 47 apadrinhamentos firmados até o momento. Desses, 16 acolhidos estão com seus padrinhos e madrinhas e outros estão em processo de inscrição. Em dois anos de existência, cinco crianças e adolescentes foram adotados pelos padrinhos e outros dois adolescentes estão em processo de adoção. Já em Olinda, são oito adolescentes incluídos no programa de apadrinhamento, com um caso de adoção efetivada e outro em andamento.
Casal adota três crianças e supera receios: “Adotar-se ao próximo”. Esse é o lema da trazido pelo casal Carlos Alberto Silva e Ivson Rodrigues quando decidiram aumentar a família. Inicialmente seria apenas uma criança, com até cinco anos conforme o preenchido no Cadastro Nacional de Adoção. Ao descobrirem o amor incondicional da paternidade, com o primeiro filho, logo se viram adotando mais duas crianças consideradas fora da faixa “ideal” de adoção. Apesar de acharem estranho o fato de serem dois pais, os três meninos foram categóricos ao afirmar o que queriam: uma família com amor e respeito. Um pedido especial para quem só conheceu a dura realidade das ruas e prontamente atendido pelo casal. O Natal agora tem sido mais divertido e passou a promover uma união maior entre os familiares.
O ato de reunir os familiares junto à mesa da ceia, na noite de Natal, nos parece uma cena comum à data. Mas sob o olhar do pequeno Carlos Eduardo, de 10 anos, esse passou a ser um dos momentos mais esperados do ano, desde que foi adotado pelo casal Ivson Rodrigues e Carlos Alberto da Silva, ambos de 36 anos. “Quando conhecemos Eduardo, perguntei o que ele gostaria de ter, e ele me respondeu prontamente: uma família, um relógio do Ben 10 e amor. Minha ficha caiu naquele momento de que ele seria meu filho, pois vi que poderia lhe dar exatamente as três coisas que ele desejava”, rememorou Ivson, que trabalha como assistente social.
Com energia de sobra, Carlos Eduardo já demonstrava que necessitaria de muita atenção, foi então que o casal decidiu adotar mais uma criança para lhe fazer companhia. “Entre idas e vindas nos abrigos, nós conhecemos João Lucas, que na época tinha 11 anos, e o seu irmão biológico, Ivson Júnior, com 9 anos. Ficamos preocupados sobre o que eles achariam de ser adotados por dois pais, já que, com Eduardo. essa formação foi recebida com muita naturalidade. Fizemos a mesma pergunta sobre o que esperavam de uma família, e a resposta foi: amor e respeito”, disse Ivson Rodrigues.
Apesar de lidarem de perto com a discriminação por conta da orientação sexual, Ivson e Carlos Alberto também precisariam vencer seu medos e preconceitos em torno da adoção de uma criança mais velha. “Todos os mitos e receios que estudamos nos encontros de adoção para enfrentá-los, vieram a tona. Entrei em pânico, afinal eles carregariam os trejeitos de crianças que vivam no meio de rua. Pensei que não conseguiria criá-los. mas isso é mero engano e puro preconceito mesmo. Não podemos julgar e taxar o futuro de uma criança por características compostas pelo fruto do meio”, declarou o bancário Carlos Alberto. Ele afirma que as histórias trazidas pelos seus filhos não podem ser negadas. “Especificidades existem, mas cabe a nós compreender isso e entender que são crianças normais, o que não é normal é o preconceito”, finaliza.
O casal sempre teve vontade de adotar uma criança, mas não chegavam a comentar sobre o assunto, não só pela falta de receptividade dos familiares próximos, como da sociedade e até da própria Justiça já que havia poucos casos de adoção por casais homoafetivos na época. Após se formarem e comprarem a casa própria, em 2011, Carlos Alberto e Ivson decidiram que seria o momento certo para ter um filho. Em maio de 2012, eles procuraram a Vara da Infância e Juventude de Jaboatão dos Guararapes e deram entrada na documentação exigida.
Não há dados específicos sobre o número de adoção por casais heteros e casais homoafetivos, no entanto, pela experiência profissional, a juíza da Vara da Infância e Juventude de Jaboatão dos Guararapes, Christiana Caribé, diz que os parceiros do mesmo sexo são mais flexíveis quanto aos perfis das crianças e adolescentes. “Eles têm maior disponibilidade de acolher esses menores, que geralmente estão acima da idade mais procurada ou pertencem a um grupo de irmãos, por exemplo”, explicou a magistrada.
Especial: Para os três irmãos, o melhor do Natal vai muito além dos presentes, eles gostam de estar com toda a família reunida. João Lucas, o mais velho e mais reservado, sonha em ser professor de educação física. Ele lembra que gostou muito de não ter sido separado do seu irmão mais novo, para juntos poderem encontrar um lar com amor e respeito, como almejavam. “No começo achei um pouco estranho o fato de serem dois pais, mas isso foi só no começo. Eles nos dão muito amor e carinho”, disse. Ivson Júnior, de 14 anos, teve o mesmo estranhamento do irmão, mas foi bem mais receptivo. “Depois que eu conheci Carlos Eduardo e vi que ele tinha dois pais, achei normal. Gostei muito de ganhar essa família”, relatou. “Nosso Natal é muito feliz, reunimos a família, todos sentam na mesa conversando e brincando”, declarou. (Via: Folha PE)
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