O sr. já disse que discorda da expectativa de que seja PT contra a
direita, seja Alckmin, seja Bolsonaro, no segundo turno. Inclusive, o
sr. aposta que pode vir a ser Bolsonaro e Alckmin. Isso.
Qual deve
ser a estratégia para o Alckmin para chegar ao segundo turno? Eu não sou
estrategista eleitoral, não sei. Pelos dados, onde a cultura estatal
tem mais força, ricos e pobres votam pelo Estado. Quando tem menos
força, a mesma coisa. Não é tão ricos contra pobres, que foi a tradução
habitual do que acontecia entre PT e PSDB, azuis e vermelhos. O que está
acontecendo? Está tudo fragmentado. Os partidos não são expressivos e
os que são, vêm de setores que têm mudanças.
O PT tem simpatia
crescente, chegou a 24%. Mas onde cresceu? Não foi entre trabalhadores,
foi geral. A ligação da classe com o partido deixou de contar. Tem mais
força no Nordeste, porque o Lula representa uma espécie de Padim Ciço,
que deu resultados para as pessoas. Os outros partidos nunca tiveram
muita expressão.
O PSDB nesse sentido fracassou? Bom, a pergunta é
casca de banana [risos]. O PSDB mudou muito, o Brasil também, e sofreu
os abalos. Bem ou mal, até agora, ele e o PT expressavam visões mais de
Estado ou mais de sociedade, era essa a diferença. [Agora] tem mais
gente expressando a mesma coisa, dos dois lados, mas mais do PSDB.
O
PSDB tem 4% de simpatizantes. A eleição não é PT contra PSDB, é fulano
contra beltrano. Sempre foi assim. Ou você acha que o PSDB ganhou a
eleição quando eu ganhei? Eu ganhei. Ou que o PT ganhou quando Lula
ganhou? Lula ganhou.
Aliados advogam que Alckmin deve esconder o
PSDB. Não precisa nem deve, vai ser denunciado pelos outros. O PSDB não
está no governo, este é o PMDB.
O PSDB está com o Aloysio Nunes no
governo e esteve após o impeachment. O povo não sabe, não se liga nisso.
Uma coisa somos nós, intelectuais, jornalistas, que vivemos nesse meio.
Para o povo, tem que mostrar como é o Geraldo. É uma fragilidade das
instituições democráticas. O desempenho da personalidade, do líder,
conta mais que os partidos.
A personalidade do Alckmin é criticada
porque não move multidões. Ele deve trabalhar de que forma? Eu movo
multidões? O que diziam de mim? Um professor, fala melhor francês que
português, o que é mentira! A população vai olhar duas coisas. Primeiro,
o que levo com isso? Está sempre subjacente o que eu ganho. Segundo —
falo por mim —, vai ter que acentuar as características que a pessoa
tem. Que características tem Alckmin? É experiente, não está envolvido
em corrupção.
Tem alguns processos judiciais em curso. Mas você vai ver e não é nada. Como Haddad, não tem nada.
Há
processos envolvendo aliados, o cunhado, Laurence Casagrande. Não
conheço, mas Geraldo põe a mão no fogo por ele. [Lula] está preso e
deixou de ter voto? Por que Geraldo vai deixar de ter porque não sei
quem está metido?
O sr. acha que a mensagem de Alckmin está certa? Qual é a mensagem? Eu não sei ainda.
Por
exemplo, o jingle diz que ele é cabeça e coração. Em campanha, acho eu,
você tem que ser do jeito que você é. Geraldo não pode ser uma pessoa
extravagante, porque ele não é. Tem que mostrar que é bom ser como ele é
para governar o Brasil. Estamos frente a uma situação em que tem muita
falta de rumo. Bolsonaro diz que vem com tacape e põe ordem. Geraldo tem
que dizer que não precisa de tacape para pôr ordem.
Como os dois
poderiam ir juntos para o segundo turno? Não sei até que ponto [a
polarização entre] azul e vermelho vai sumir mesmo. Porque os dois têm
estrutura, muitas prefeituras, enraizamento, história.
O MDB
também. E vai sumir? Não. O MDB sempre fez o que está fazendo agora. Não
está jogando para presidente da República, está jogando para poder
repetir...
De depois aderir ao governo eleito? Sim. Se tiver força,
vai ter que negociar com ele. Você acha que foi o Partido Republicano
que elegeu Trump? Não.
Mas se não fosse o Partido Republicano ele não
se elegeria. É o que estou dizendo. É uma soma da estrutura com a
capacidade de expressar um sentimento da população.
Alckmin e
Bolsonaro disputam o mesmo eleitorado? Mais ou menos. Uma parte do
pessoal estatista vai votar no Bolsonaro também. Eu não sou uma pessoa
assertiva que vai dar tal coisa, porque depende. O desempenho dos
candidatos é importante, o jeitão deles é importante. A democracia é
assim. Se quer garantias, na China é tudo mais garantido que aqui.
Que
eleitorado Alckmin belisca para chegar ao segundo turno? Como o PSDB
foi crescendo? Bom, eu ganhei em toda parte, não conta. Era outro
momento. Cresceu basicamente de São Paulo para o Sul. Centro-Oeste vai
até o Acre. Chega no Rio, perde.
Em Minas, às vezes ganha, às vezes
perde, e no Nordeste inverte. Acho que a estratégia deve ser consolidar o
que tem, e não arriscar onde não tem. A escolha da vice foi correta.
No
Sul, Bolsonaro tem 30% e Alckmin, 6%. Mas não começou a campanha ainda.
Acho muito importante fazer pesquisas e tal, mas a dinâmica eleitoral é
de confronto. O confronto está começando a se dar. Reitero, acho que o
candidato do PSDB tem que concentrar onde sempre teve mais votos. Aí tem
que brigar com quem? Bolsonaro.
Tem espaço para os dois? Pode ter. A
mesma dificuldade do PSDB, o PT tem também de entrar no Rio, no
Nordeste, porque é paulista,.
Haddad passa para o segundo turno? Vai
ser difícil. A competição neste momento vai ser entre PT e PSDB.
Aceitando que o sentimento bolsonarista vai se manter, para ir para o
segundo turno, é PT e PSDB. Tradicionalmente, a disputa ia ser PT e PSDB
no segundo turno. Agora, eu acho que será para ver quem vai para o
segundo turno.
Se PSDB tem que ter o voto que já está com o Bolsonaro
no Sul... É dinâmico. Em política, as coisas não são. Vão sendo. Além
disso, outro problema que se sobressai no campo mundial é que a
sociedade contemporânea está mudando. As estruturas fixas, os partidos
já não correspondem mais à coesão anterior, então é tudo mais flutuante.
Por isso uma pessoa como Bolsonaro, que não tem estrutura, parece como
se pudesse.
Como tirar voto dele? [Dizer que] Bolsonaro apoia o
regime militar. Já acabou! Reforça os deles. Como muda? Não é atacando. O
povo, no fim, não gosta de ataques, sobretudo ataques pessoais. Atacar
Bolsonaro é gol contra.
Então tem que mostrar... O positivo. Eu posso. Você não.
A
estratégia de Lula de postergar ao máximo a definição da candidatura
petista foi boa para eles? Não sei julgar. Lula sempre se caracterizou
por não aceitar número dois. Com a Dilma fez assim e deu certo. Agora é
mais difícil, a situação do Lula é mais delicada e já houve a
experiência de eleger alguém que o Lula apoiou e esse alguém não é
querido da população. Agora, reitero o que eu disse para o Haddad
também. Depende de como vão se comportar, a mensagem. [O poder da rede
social] de transformar em voto não foi testado. Há a sensação de ser
crescente. Do ponto de vista sociológico, é interessante o que vai
acontecer.
Alckmin passou a defender armar a população no campo. Quem não muda?
Está
certo ceder? Não é do temperamento do Geraldo ceder, ele é uma pessoa
que tem linha, tem vida, tem história. Tenho muito medo de quem não tem
história, porque esse é imprevisível. Geraldo não é imprevisível. Isso
pode até não ser bom do ponto de vista de fazer onda eleitoralmente. Mas
ele não é imprevisível. Ele tem uma característica que não vejo
ressaltada que ele não é intolerante, nunca foi. É religioso, mas não é
intolerante. A democracia requer personalidades que tenham capacidade de
aceitar a diversidade.
Ele acolhe sugestão? Poucas vezes eu digo algo que queira que acolha. Falei sobre a Vice-Presidência e fui ouvido.
Em
que medida o PSDB contribuiu para a extrema direita, assombreada por
ele até ser desgastado na Lava Jato, ganhar vida própria? Quem fez a
polarização que deu no que deu foi o PT, pobres e ricos, eu contra você.
O PSDB nunca teve esse tipo de comportamento ‘só eu sou bom’.
O PT acha que o PSDB tem essa postura. Mas não tem. Na prática, o que fez Lula? Governou com quem?
Com
os mesmos? Claro. Estou criticando? Não, porque existem, estão lá, você
tem que ter maioria no Congresso. Os métodos, aí é outra coisa.
Foram diferentes? Uai, eu nunca tive mensalão, não é? Pode revirar.
O
PSDB deve fazer aceno no segundo turno ao PT contra o Bolsonaro? O PSDB
tem que ir para o segundo turno. O Brasil precisa de ordem sem tacape.
PT
seria desordem? Não, seria outra coisa. O PT voltou a ficar no estado
anterior dele, mais intransigente, mais hegemônico. Eu não gosto disso.
Ciro
disse que Bolsonaro é um 'projetinho de hitlerzinho tropical'. Ele é
mais contundente ao criticar o Bolsonaro. Criticar o Bolsonaro é dar
corpo a Bolsonaro. Dá força. Eleitoralmente não acho que seja bom. Ciro é
um radical livre, pode falar o que quiser. Ele tem essa característica
de ter sido sempre assim. Agora é isso que limita também a a
possibilidade de ser presidente. (Via: Folhapress)
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