MEMÓRIA DO MOMENTO MAIS TRISTE DE MINHA VIDA...


MEMÓRIA DO MOMENTO MAIS TRISTE DE MINHA VIDA...

Com a prisão de mais alguns suspeitos na madrugada deste dia 16 de agosto de 2013, tendo como um dos principais motivos à investigação do assassinato de meu pai, a angustia e a ansiedade veio mais uma vez para me consumir se alimentar de minha alma! Ligo para meus amigos policiais e estes para me preservarem não me informam nada, pedem apenas que eu tenha calma.
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Não queremos vingança, queremos apenas saber quem foi os autores e que a justiça seja feita. Neste momento estou aqui no plantão do Conselho Tutelar, nervoso e minhas mãos estão geladas... Passa-se um filme em minha cabeça...
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Peço desculpas pelo que vou escrever agora, talvez nem publique, mas preciso escrever... Eu acompanhei de perto os últimos minutos de vida de meu amado pai naquela ambulância. Antes de sair de Afogados, ele conseguiu me perguntar para onde estávamos indo e eu falei que seria para o Recife, foi quando escutei a voz dele falando comigo pela última vez onde perguntou: "E vai ser preciso ir para o Recife?”.

Atrás da ambulância seguia nos acompanhando o carro de Manoel Olímpio, sogro de meu irmão Sales, onde este, minha irmã Shirley e Maciel Olímpio acompanhavam o socorro onde sempre que havia área eu me comunicava com eles informando a situação e o estado de nosso pai.

Durante a viagem e nos catabis da estrada até a cidade de Placas, ele gemia demais e clamava muito por Deus! Já estando perto da cidade de Pesqueira ele abriu os olhos e me viu e começou a fazer muita careta com as dores que vinha sentindo e no momento tentava me dizer alguma coisa. Enquanto abria a boca para tentar falar, porém já não conseguindo mais, foi que pude ver que na queda ele quebrou os dentes da frente da boca e sua gengiva estava muito machucada.

Eu tentei o acalmar dizendo que aguentasse, que logo, logo agente chegaria no Recife. Porém a dor que ele sentia devia ser terrível, mesmo com toda a medicação, a bala estava alojada na cervical dele e coluna é uma das partes mais doloridas do corpo e com o balançar do carro, pela sua angustia tenho certeza que seria insuportável dele aguentar aquele sofrimento por muito mais tempo.

Por volta das 22 horas, ele se acalma um pouco e eu me tranquilizo enganosamente achando que a dor tinha sido aliviada, foi quando o médico Dr. Esteves deu um pulo abrupto da cadeira onde estava, e gritando veementemente com as duas enfermeiras, me empurraram para um canto da ambulância e começaram o corre-corre, aplica adrenalina, aplica isso, aplica aquilo, massagem cardíaca... No monitor da ambulância, que era uma UTI móvel, num breve momento aparecia os batimentos, depois sumia e devido a proximidade com a cidade de pesqueira, o médico em desespero gritava "Vai ligeiro motorista, vai ligeiro p...” Ao entramos em Pesqueira, houve outro problema, a dificuldade de se encontrar o hospital! Entravamos numa rua e noutra e nada de localizar o hospital. Ao conseguirmos chegar, rapidamente os enfermeiros já nos foram recebendo e partindo para o socorro naquele corre corre habitual, porém quando o colocaram na mesa e ao lhe examinarem, ficaram estáticos olhando um para o outro. Foi nessa hora queridos amigos, que caiu a fixa e procurei terra nos pés e não encontrei...
Após o atendimento, o corpo foi envolto em um lençol branco e colocado na pedra, onde permaneceu naquele triste, mal acabado e frio ambiente até o início da manhã, onde eu, Maciel, um funcionário do hospital e o motorista da funerária Dimensão o colocamos num caixão de fibra e logo após no carro funerário, onde o acompanhamos até a cidade de Caruaru para a realização da perícia por parte do IML.

Ter passado o resto da noite ao lado de onde o corpo de meu pai estava enrolado naquele pano de hospital e naquela pedra fria foi muito terrível, e pensei que a partir de então as coisas iriam transcorrer de uma forma menos sofrível e que logo estaríamos de volta para casa. Eu não queria de forma nenhuma estar escrevendo esta matéria, mas já que comecei, então vamos lá...

Senti que devo desabafar e informar aos meus leitores o que acontece quando alguém morre de forma não natural. O desejo de escrever estas linhas vem desde o ocorrido porque sinto-me no dever de como membro desta forma de imprensa moderna, verdadeira e atuante, não me calar mediante o que vi que fizeram com os restos mortais de meu pai, e que certamente vão continuar fazendo com outras vítimas que por força do destino acabam indo parar naquele lugar miserável! Então resolvo expor aqui toda a minha repulsa e indignação pela forma com que o IML da cidade de Caruaru trata os nossos entes queridos que de forma trágica tiveram as suas vidas ceifadas!
Para começar, veja o total desrespeito por parte de nossos governantes em relação aquele ambiente miserável, lamacento e desprovido de qualquer acomodação digna de receber pessoas que se encontram completamente fragilizadas.
O que se vê são olhos vermelhos, cheios de lágrimas, misturados em meio aos carros funerários com suas vítimas, onde passam horas esperando o atendimento em um local que mais parece um ambiente retirado de um filme de terror!

Desprovido de qualquer tratamento humanizado, porque se a saúde já não anda bem, imagine como são tratados os mortos? E tendo ainda que enfrentar as burocracias que pareciam não ter mais fim, eu, Maciel e o motorista da funerária, tivemos ainda que procurar uma delegacia de policia afim de conseguir uma pulseira para colocar no tornozelo do corpo de meu pai, senão o IML não iria receber o seu corpo!

Ao chegar na Delegacia, e após chamarmos por um bom tempo, apareceu um policial que do outro lado do portão perguntou o que era, onde informei que meu pai havia sido morto e precisava de uma pulseira de identificação, então ele olhando para o relógio e balançando a cabeça em um gesto de desaprovação, talvez por se tratar de ser ainda por volta das sete e pouco da manhã, destravou então o cadeado da corrente e saiu, onde tivemos nós mesmos que enfiar as mãos por dentro do portão, retirar o cadeado e desenrolar a corrente para poder entrar e ser atendido apenas por volta de 40 minutos depois.
O amigo e Professor Paulo Miranda (Paulinho), prestou sua
solidariedade naquele momento tão difícil
Voltamos para o IML e aguardamos na fila a perícia ser realizada. Sei da importância desse tipo de trabalho para as investigações policiais, porém, nunca imaginei que o “serviço” seria realizado da forma como foi feito! Completa falta de respeito com os restos mortais daqueles que numa fatalidade acabam caindo em suas mãos! Eu entreguei o corpo de meu pai de um jeito, e o recebi de uma forma completamente diferente! Se soubesse que seria assim, jamais teria aceitado que o seu corpo fosse enviado para aquele instituto!

Após o fim do atendimento, o motorista da funerária nos mandou seguir em frente que iria levar o corpo de meu pai para ser aprontado para o velório. Neste meio tempo, senti o desejo de ver o que o IML fez na perícia. O motorista do carro funerário só me mostrou o corpo depois de certa insistência. Para surpresa minha, o estrago que os peritos do IML fizeram foi tão grande que o mesmo estava praticamente irreconhecível, retiraram tanto material de sua cabeça que sua face ficou afundada. Apesar do tiro fatídico ter sido no pescoço, não entendo porque tiveram que abri-lo por inteiro e ainda por cima fazer uma costura horrível como a que foi feita. (veja na foto)

Para encerrar o assunto e evitar maiores detalhes, tive que levar o corpo de meu pai para um local em Caruaru e pagar para reorganizar o corpo, recosturado e fazer os enchimentos de sua face. Foi feito o que se devia, de uma forma constrangedora e sem nenhuma delicadeza ou respeito, porém foi feito o serviço e a aparência de meu pai ficou agradável. A preocupação que mais me vinha na mente, era a pouca idade dos seus netinhos e sei que esta seria a última imagem que eles teriam do avô e isto me preocupava bastante!
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Encerrando esta matéria triste e grotesca, peço desculpa a todos os leitores que a leram. Não sei porque a escrevi, mas Deus deve saber o motivo pela qual ela foi feita...

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