Lição 6 – Perseverança e fé em tempos de apostasia


Lição 6 – Perseverança e fé em tempos de apostasia

Subsídio para a Escola Bíblica Dominical da Lição 6 do trimestre sobre “A supremacia de Cristo”
INTRODUÇÃO
Dando sequência ao nosso estudo sistemático da Carta aos Hebreus em nossas Escolas Dominicais, chegamos agora ao sexto capítulo onde está registrado ao mesmo tempo: uma das mais contundentes advertências contra a apostasia e uma das mais vibrantes declarações de confiança que devemos ter nas promessas de Deus e nelas nos firmarmos. Vivemos uma época onde o ateísmo, as seitas, heresias e a teologia liberal têm buscado terreno no meio do arraial do povo de Deus, para arrefecer a fé genuína e debandar o rebanho do Senhor. Estes são os “tempos trabalhosos”, como disse Paulo (2Tm 3.1). Todavia, na Palavra de Deus dispomos da ferramenta poderosa, “a palavra viva e eficaz” (Hb 4.12), pela qual podemos destruir conselhos e toda altivez que se levanta contra o conhecimento de Deus, e levar todo conhecimento cativo à obediência de Cristo (2Co 10.4,5). Bom estudo!

I. A NECESSIDADE DO CRESCIMENTO ESPIRITUAL
Nos dois primeiros versículos do sexto capítulo da Carta aos Hebreus, o autor exorta seu público destinatário a progredir na fé, avançando para além dos “rudimentos da doutrina de Cristo”, ou seja, “os ensinos elementares a respeito de Cristo” (NVI). Óbvio, este texto não sugere um abandono dos ensinos elementares da fé cristã, mas um avanço a partir destes fundamentos já bem postos. Estes fundamentos são, como diz José Gonçalves, o “ABC doutrinário” da fé cristã. Donald Guthrie diz que nestes primeiros versículos temos um contraste entre o homem maduro e a criança espiritual (1). Os rudimentos do “maternal espiritual” são estes que podemos dividir em três pares:
1° PAR: questões soteriológicas
Arrependimento de obras mortas. Arrependimento é o ponto de partida para a conversão genuína. Estas “obras mortas” podem ser uma referência às obras da carne (Gl 5.19) ou, mais provavelmente, às obras da lei pelas quais os judeus convertidos pensavam, outrora, poder alcançar a salvação (Gl 2.16).
Fé em Deus. A fé é o ponto nevrálgico da fé cristã, de tal modo que “sem fé é impossível agradar a Deus” (Hb 11.6). Pois a salvação é “…para que todo aquele que nele crê” (Jo 3.16 – o “coração da Bíblia”). Que o arrependimento e a fé são essenciais, isso já devia ser consenso entre os judeus convertidos, não passível mais de discussão ou questionamento.

2° PAR: questões litúrgicas ou eclesiológicas
Doutrina dos batismos. Segundo David Peterson, “o ensino de batismos (plural) pode ser uma referência às purificações cerimoniais dos judeus (cf. 9.10) e seu cumprimento em Cristo” (2), ou como sugere Orton Wiley, o par batismo e imposição das mãos refere-se à confissão pública da fé (3). Seja como for era uma questão já fechada na igreja, e que não carecia de ser novamente e persistentemente discutida. Os cristãos deviam avançar e continuar construindo sobre estes fundamentos.
Imposição das mãos. Na opinião de Guthrie, que parece-nos plausível, “a imposição de mãos, que na prática judaica era vinculada com a transmissão de uma bênção, na igreja adquiriu um novo sentido. Há muitas ocorrências em que a imposição de mãos está ligada com a cura (cf. Mc 16.18; At 28.8, onde tem conexão com a cura cristã por este meio). O sentido aqui, no entanto, é mais específico. Provavelmente incluísse a transmissão de dons específicos (cf. At 8.17; 13.3; 19.6; 1 Tm 4.14)” (4).

3° PAR: questões escatológicas
Ressurreição dos mortos. A ressurreição dos mortos era uma doutrina já inconteste para aqueles primeiros cristãos, visto ser tanto admitida por judeus quanto por cristãos, especialmente em virtude da ressurreição de Cristo, que era um grande tema na pregação apostólica. Entretanto, possivelmente na mente de muitos pairava uma dúvida que precisava ser removida, ainda que com tratamento de choque: “será que Cristo ressuscitou mesmo?” ou “será mesmo que haverá uma grande ressurreição final?”. Paulo, por exemplo, travou grandes lutas pela defesa desta doutrina fundamental, especialmente no capítulo 15 da carta aos Coríntios, onde ele afirma categoricamente: “se está sendo pregado que Cristo ressuscitou dentre os mortos, como alguns de vocês estão dizendo que não existe ressurreição dos mortos? Se não há ressurreição dos mortos, então nem mesmo Cristo ressuscitou; e, se Cristo não ressuscitou, é inútil a nossa pregação, como também é inútil a fé que vocês têm” (1Co 15.12-14).
Juízo eterno. Como o autor de Hebreus, esperamos que cada crente com tempo suficiente de conversão tenha uma noção básica e segura do juízo eterno reservado para os que não se arrependerem de seus pecados. Questionar se existe mesmo inferno, se Deus irá realmente condenar os descrentes ou se o amor de Deus é compatível com a condenação eterna é realmente uma questão de principiantes! Dos adultos na fé, espera-se uma segurança absoluta nestas questões, já que “pelo exercício constante, tornaram-se aptos para discernir” (Hb 5.14)

– crescer e não se contentar com a meninice da fé

O autor conclama-nos a prosseguir até a perfeição, isto é, avançar até a maturidade. Muito lembra-nos as exortações paulinas, quando falava dos dons ministeriais que Deus concedeu à igreja (apóstolos, profetas, evangelistas, pastores e mestres), com vistas ao “aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, para edificação do corpo de Cristo; até que todos cheguemos à unidade da fé, e ao conhecimento do Filho de Deus, a homem perfeito, à medida da estatura completa de Cristo, para que não sejamos mais meninos inconstantes, levados em roda por todo o vento de doutrina, pelo engano dos homens que com astúcia enganam fraudulosamente” (Ef 4.12-14). Como dissemos na Lição passada, a Palavra de Deus não prestigia a ignorância. O tempo inteiro somos chamados a ler, estudar, meditar, ponderar, conhecer, nutrir, alimentar, crescer, avançar, progredir, etc (conf. Js 1.8; Sl 1.1-3; 1Co 12.1; 1Ts 4.13; 1Tm 4.13). Aqueles cristãos hebreus estavam, conforme já foi constatado no quinto capítulo, cedendo lugar à preguiça e à negligência, deixando assim de nutrir-se de um conhecimento mais profundo da fé cristã, abrindo-se para a apatia espiritual, enfraquecendo sua fé e fazendo-se presas fáceis daqueles que desejavam arrastá-los de volta ao judaísmo. A meninice espiritual faz crentes suscetíveis ao engodo. Por esta razão, os apóstolos advertem: “seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo” (Ef 4.15) e “crescei na graça e conhecimento de nosso Senhor e Salvador, Jesus Cristo” (2Pe 3.18).

Quem dera toda a igreja entendesse que o desejo de Deus não é só a nossa salvação do pecado, mas também que “cheguemos ao pleno conhecimento da verdade” (1Tm 2.4), somente assim teríamos escolas dominicais e cultos de ensino superlotados, com crentes desejosos de progredir neste conhecimento da verdade e aprofundar sua relação com Deus! Que o convite de Oséias, que creio ser também o convite de cada apaixonado ensinador da Palavra de Deus hoje, possa ecoar em todos os lugares e ser de pronto atendido: “Conheçamos e prossigamos em conhecer ao Senhor” (Os 6.3).

– cavar fundo para construir com segurança

Quando o crente não se alicerça na Palavra de Deus, e não se aprofunda nela para firmar suas raízes contra as intempéries da vida, as seduções das heresias, as tentações do diabo, o engano dos falsos profetas e as inclinações de sua carne, ele expõe-se a tantos perigos que não se pode contar. Na parábola de Jesus sobre os dois construtores, o que diferencia um do outro não é que um subiu e o outro ficou lá embaixo; não é que um procurou uma rocha alta numa montanha para construir sua casa enquanto o outro construiu na beira da praia (ilustrações essas comuns, e, no entanto, não condizentes com o texto bíblico). O que fez a diferença é que enquanto um construiu sua casa sem cavar os alicerces, o outro, que bem podia ser vizinho do primeiro, “cavou fundo” até encontrar lá embaixo rocha firme sobre a qual construir sua casa (conf. Lc 6.48,49). Um cavou e outro não, esta é a diferença! Mas quantos estão como aquele mordomo infiel a se lamentar: “Cavar, não posso” (Lc 16.3), e preferem então construir suas casas na superfície da fé, vivendo um cristianismo raso, fraco e superficial, facilmente rompível nos primeiros ataques dos inimigos. São os crentes que vivem de shows gospel, louvorzões, cultos online, caixinhas de promessa, e visitas esporádicas às suas igrejas; da Bíblia só conhecem os Salmos (e mal!), nunca pegam num bom livro teológico para ler, mas gastam horas a fio diante da TV e nas redes sociais da internet, alimentando o vício nos brinquedinhos tecnológicos; preferem uma partida de futebol no domingo pela manhã ao invés da Escola Dominical… Eles até sabem que só Jesus salva, que precisam ser batizados nas águas, que devem contribuir financeiramente em suas igrejas, etc. Conhecem os rudimentos, mas não estão avançando rumo à maturidade. Se perguntarmos a eles o que são os “profetas menores”, é capaz de recebermos respostas que nos façam rir! (ou chorar de vergonha); se perguntarmos a diferença entre doutrina da Justificação e Regeneração, eles logo dirão que “isso é coisa de teólogo”. É preciso crescer e amadurecer, até alcançarmos a “estatura de varão perfeito” (Ef 4.13).
II. A NECESSIDADE DE VIGILÂNCIA ESPIRITUAL

Nosso Senhor Jesus já nos advertiu que com a multiplicação da iniquidade, o amor de muitos esfriará (Mt 24.12). O apóstolo Pedro alerta-nos que “surgirão entre vocês falsos mestres. Estes introduzirão secretamente heresias destruidoras, chegando a negar o Soberano que os resgatou, trazendo sobre si mesmos repentina destruição” (2 Pe 2.1). O apóstolo Paulo é enfático: “O Espírito diz claramente que nos últimos tempos alguns abandonarão a fé e seguirão espíritos enganadores e doutrinas de demônios” (1 Tm 4.1). Vê-se, portanto, que o perigo do esfriamento do amor, da rejeição ao Cristo que nos resgatou e, finalmente, da apostasia da fé para seguir doutrinas de demônios é realmente um perigo real, não meramente hipotético.

Abaixo, procedo uma abordagem exegética das expressões usadas nos versículos 4 a 6 do sexto capítulo de Hebreus, que demonstra ser um convertido o que está ali em questão. Apenas ressalto de antemão que este texto, como destaca o Dr. Craig Keener, “se refere à apostasia intencional e não a um ato isolado de pecado ou de ‘desviar-se da verdade’, que pode ser tratado pelo arrependimento; o ato de se desviar pode ser coberto, conforme Tg 5.19,20. O ensinamento aqui não é que Deus não aceita o arrependido, mas que alguns corações se tornam tão duros para considerar se arrepender, que se recusam a reconhecer Cristo, o único meio de arrependimento” (5).

As expressões “foram iluminados, e provaram o dom celestial, e se fizeram participantes do Espírito Santo, e provaram a boa palavra de Deus, e as virtudes do século futuro” (vv. 4,5) não podem COM HONESTIDADE ser aplicados a um ímpio, embora alguns assim façam parecer para acomodar a Bíblia à sua teologia (especialmente aqueles que defendem a Perseverança (incondicional) dos santos, que nega que um convertido possa perder a salvação). Na Carta aos Hebreus desde os primeiros aos últimos capítulos abundam as advertências contra os perigos reais que “os irmãos” enfrentam, possibilidade real de queda, de desvio e de exclusão da graça (leia: 2.1; 3.12; 4.11; 10.29; 12.15-17, 25-29). Vejamos alguns termos:
“foram iluminados” (gr. photistenthas) (v. 4).

Pode o ímpio, a quem o deus deste século cegou (2 Co 4.4), ser iluminado sem ser pelo Evangelho que penetra-lhe a alma? Ademais no capítulo 10 e versículo 32, o autor da carta aos Hebreus se refere aos seus irmãos em Cristo como aqueles que foram “iluminados”. Por que os iluminados de 6.4 não seriam os mesmos de 10.32?! Interessante porque a concordância Strong diz que o significado de “photizo”, palavra grega usada aqui, significa:“produzir luz, brilhar, esclarecer espiritualmente, imbuir alguém com conhecimento salvador”. É de convertidos que se fala aqui.
“provaram [gr. geuomai] o dom celestial” (v.4)
“provaram a boa palavra de Deus” (v.5)

Pode o ímpio provar o dom do céu senão somente mediante a salvação? Pode um incrédulo provar a palavra de Deus e não ser convertido? Jesus disse que quem é de Deus ouve a Palavra de Deus (Jo 8.47). Não seriam estes de Deus já que ouviram e provaram (segundo Strong, “saborear, experimentar, servir-se, comer, nutrir-se”) o dom celestial e a Palavra de Deus? A mesma palavra usada para “provar” no capítulo 6 também foi usada antes no capítulo 2 (v. 9) para falar que Cristo “provou” a morte por todo homem. Trata-se, portanto, de uma experiência factível, real, concreta de alguém que provou para além de uma mera degustação, o dom celestial (que dom seria esse senão a salvação pelo Espírito? – At 2.38) e a boa palavra de Deus. Novamente, é de crentes que se fala aqui.
“tornaram-se participantes [gr. metochos genethentas] do Espírito Santo” (v.4).

Pode o ímpio ser participante do Espírito Santo, sem ser salvo antes? Ora! Jesus disse que o mundo não tem nem pode receber o Espírito Santo, mas os discípulos sim é que o tem (Jo 14.17). Como o ímpio não pode ter o Espírito, mas pode ser PARTICIPANTE dele? Ainda mais que a palavra “participante” significa no grego “associação, comunhão, companheiro num trabalho, ofício, dignidade”. Pode um ímpio ter tal relação com o Espírito e não ser salvo? Paulo responderia: “Não há comunhão alguma entre a luz e as trevas!” (2Co 6.14). A palavra usada por Paulo é a mesma de Hebreus: “metocheo” (comunhão, associação). Definitivamente o ímpio não pode ser parceiro em nenhuma hipótese do Espírito Santo! E os que admitem tal possibilidade incorrem numa estranha forma de sinergismo: o ímpio cooperando com o Espírito Santo, sem ter em vista a salvação daquele. Interessante que a mesma palavra “metochos” foi usada várias vezes pelo escritor aos Hebreus para falar de uma participação real, vínculo afetivo, aliança, comunhão (1.9; 3.1). Dou destaque para este texto, que inclusive ressalta a nossa responsabilidade na questão da perseverança: “Porque nos tornamos participantes de Cristo, se retivermos firmemente o princípio da nossa confiança até ao fim” (Hb 3.14). Insisto: é de salvos que este texto está falando.

Eu poderia prosseguir a exegese do versículo 4 e 5 para mostrar que ali não está se falando de ímpios, réprobos ou incrédulos, mas de crentes, de salvos, de regenerados (não meros crentes nominais ou incrédulos simpatizantes do Evangelho). Todavia, concluo apenas ressaltando: o versículo 6 diz que eles “caíram” [gr. parapesontas]. Mas como poderiam cair se nunca estivessem de pé? Diz que é impossível “outra vez renová-los” para o arrependimento. Como “renovar outra vez” se eles nunca se arrependeram antes? Não existe “renovar” nem “outra vez”, para quem nunca teve a primeira vez! “Renová-los outra vez” significa que eles lá atrás já haviam provado realmente o arrependimento. O efeito cumulativo de todas as expressões de Hebreus 6.4-6 só podem levar-nos a uma direção: é de salvos que correm o risco de apostasia (deserção deliberada da fé) que se está falando ali! Sim, eles foram crentes genuínos no passado, mas negligenciaram a santificação e a obediência (livre) à Cristo, e por isso, como dizia Paulo, “naufragaram na fé” (1Tm 1.19). Gosto da figura evocada por Paulo do “naufrágio”, ela é bem significativa para falar de alguém que já esteve no barco (a nau), mas vacilou e afundou em meio ao mar revolto de tentações. Que ruína! Contrário aos que dizem que a graça não pode ser resistida ou que um salvo não pode declinar da salvação outrora recebida, a Bíblia afirma reiteradas vezes que:
A pregação da Palavra pode em nada ser aproveitada (Hb 4.2)
O esforço evangelístico pode ser feito inútil (1Ts 3.5)
O homem pecador ou mesmo crente pode resistir ao Espírito Santo (At 7.51; Hb 3.7,8)
O homem pode recusar os projetos de Deus para ele (Lc 7.30; Mt 23.37)
A fé do crente pode ser pervertida (2Tm 2.18)
A fé pode ser abandonada (Hb 10.38; 1Tm 1.19; 4.1)
A fé pode ser recebida em vão (1Co 15.2)
A graça pode ser recebida em vão (2Co 6.1)
Pode-se cair da graça (Gl 5.4)
Pode-se se excluir da graça (Hb 12.15)

Então sim, a Bíblia fala abundantemente da possibilidade de queda e apostasia final do crente, se ele não perseverar na fé. Os crentes judeus são sacudidos para que despertem da sonolência espiritual, antes que caiam precipício abaixo de modo irremediável (Pv 29.1). Cristo promete vida eterna aos crentes, mas somente aos que perseverarem até o fim (Mt 24.13; Mc 13.13; Hb 3.14; 10.38; Ap 2.10). Somente estando em Cristo, e deixando Suas palavras estarem nele (Jo 15.4,7) é que o crente pode dizer junto com Paulo: “Quem nos separará do amor de Deus?” (Rm 8.35). Afinal, do amor de Deus só não serão cortados os que PERMANECEREM em Cristo. Foi ele mesmo quem disse: “Se guardardes os meus mandamentos, permanecereis no meu amor” (Jo 15.10). Prestou atenção no “Se…”? Gosto do conceito de James Strong aqui: “[‘Se’ é] uma partícula condicional, que faz referência ao tempo e à experiência, introduzir algo futuro, mas não determinar, antes do evento”, ou seja, ninguém está determinado a permanecer no amor de Deus, sem levar em conta primeiro o evento da perseverança, da permanência voluntária em Cristo. Por isso, quando podendo deixar Cristo e seguir com a multidão, Pedro resolveu ficar: “Senhor, para quem iremos nós? Tu tens as palavras da vida eterna” (Jo 6.68).
III. A NECESSIDADE DE CONFIAR NAS PROMESSAS DE DEUS

– Depois do tratamento de choque, o bálsamo

Depois do “tratamento de choque”, como diz José Gonçalves, que o autor da carta aos Hebreus dá nos versículos anteriores, ele agora começa a passar o óleo nas feridas que estão pelo corpo, trazendo a palavra de consolo após a palavra de repreensão. Embora tenha deixado seus leitores bem cientes (e novamente torne a fazê-lo mais adiante, repetidas vezes) sobre o perigo do afastamento deliberado de Cristo, ele ressalta no final do sexto capítulo as maravilhosas promessas que temos em Cristo, nas quais podemos confiar. Seu desejo é que cada um mostre prontidão até o fim, para “que tenham plena certeza da esperança” (6.11). Enquanto um fim horrível está reservado para os que se endurecerem e apostatarem de Cristo – “é impossível que sejam outra vez renovados para o arrependimento” -, um fim glorioso está também reservado para os que vencerem a negligência, superarem o desânimo e com fé e paciência prosseguirem na caminhada com Cristo. Há uma esperança que nos está proposta (6.18; Hb 12.2), e se nos apegarmos a ela, teremos “esta esperança como âncora da alma, firme e segura, a qual adentra o santuário interior, por trás do véu” (Hb 6.19). Nesse sentido, o autor da carta aos Hebreus, como um bom pastor, usa tanto a vara da correção, quanto o cajado da condução. Ele não larga seus leitores num terrível sentimento de derrota e incapacidade, mas, após haver repreendido duramente, demonstra como eles começaram bem, servindo aos santos, e como podem continuar esta mesma carreira, desde que prestem atenção ao que têm ouvido e assumam um firme compromisso de fé.

– Uma experiência para ilustrar o ensino

Aqui está, aliás, um dos mais belos textos bíblicos na carta aos Hebreus que confirmam a segurança da salvação para os que estão em Cristo perseverando em fé e paciência: esperança como âncora da alma! Há um relato muito interessante de uma experiência vivida por Orlando Boyer, autor do clássico Heróis da Fé, publicado pela CPAD, e que aproveito para compartilhar com você, conforme está registrado na parte introdutória do livro 150 Estudos e mensagens de Orlando Boyer (também pela CPAD):

“Boyer contava 12 anos de idade quando o sofrimento e o falecimento de sua avó o levaram a preocupar-se com o seu próprio destino após a morte. Um pensamento o atormentava: ‘Onde vou passar a eternidade?’. Apesar de seus pais serem crentes, de ele próprio ir à igreja e participar dos cultos domésticos, não tinha certeza da salvação, até que, num domingo, ele aceitou Jesus como seu Salvador. Aos 16 anos voltou a ser atormentado pelas dúvidas, mas, na epístola aos Hebreus, encontrou a resposta para suas angustiantes perguntas concernentes à esperança da salvação: ‘A qual temos por ‘âncora da alma’, segura e firme, e que penetra além do véu’ (Hb 6.19). Estas experiências levaram-no a escrever, 40 anos depois, o livro Âncora da alma, com o objetivo de dirimir dúvidas e inspirar fé e confiança na alma dos leitores”.

Que belo relato, não? Se nos apegarmos à fé em Cristo, desfrutaremos desta mesma paz interior, fruto de nossa firmeza em Cristo. Se confiarmos no Senhor em ato contínuo, seremos como o monte Sião, que não se abala, mas permanece firme para sempre (Sl 125.1). Como diz a segunda estrofe do hino 107 da Harpa Cristã,

“Firme nas promessas, hei de não falhar,
Quando as tempestades vêm me assolar;
Pelo Verbo vivo hei de batalhar,
Firme nas promessas de Jesus”

CONCLUSÃO

Ao mesmo passo em que devemos tratar as vibrantes advertências na carta aos Hebreus contra o afastamento de Cristo como perigos factíveis, e não apenas hipotéticos, é preciso também dizer que esta mesma carta é abundante em palavras de ânimo, fé e esperança para aqueles que se encontram em situação de crise e buscam uma fortaleza para suas almas. Este texto de Hebreus 6.19, dentre outros, é realmente um bálsamo para a alma inquieta, vitimada por pensamentos de dúvida e medo sobre sua salvação. Em Cristo Jesus temos a âncora da alma! Sua promessa permanece segura e firme: “Quem crê em mim, viverá!” (Jo 11.25). Os que em ato contínuo seguem a Cristo, como ovelhas obedientes que seguem o seu pastor, não precisam abrigar o medo em seus corações, nem duvidarem quanto à sua salvação, pois o Senhor prometeu e Ele não mente nem falha. Orlando Boyer, ainda jovem, sentiu esta segurança que emana da Palavra e confirmada pelo Espírito em seu coração, e nesta âncora permaneceu inabalável até os seus 85 anos, quando o Senhor o recolheu para Sua glória celestial!
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REFERÊNCIAS
(1) Donald Guthrie. Hebreus – introdução e comentário, Vida, p. 129
(2) David Peterson. Comentário Bíblico Vida Nova, Vida Nova, p. 2002
(3) Orton Wiley. A excelência da nova aliança em Cristo: comentário exaustivo da carta aos Hebreus. Central Gospel, p. 274
(4) Donald Guthrie. Op. cit., p. 131
(5) Craig Keener. Comentário histórico-cultural da Bíblia – Novo Testamento, Vida Nova, p. 767
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