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Da fábrica fechada de Camaçari (BA), restaram os pátios vazios e as placas da avenida que ganhou o nome de Henry Ford, fundador da montadora. Dos funcionários, ficou a união em grupos de aplicativos de mensagens que se tornaram uma espécie de espaço de apoio mútuo pela perda dos empregos.
O anúncio de encerramento das atividades produtivas da Ford no Brasil, que completa um ano em 11 de janeiro, deixou rastro de desemprego, queda na produção industrial e baque em efeito cascata na economia de Camaçari. No início de 2021, a empresa também comunicou o fechamento das fábricas em Taubaté (SP) e Horizonte (CE), além da unidade baiana.
Camaçari abrigou a primeira indústria de automóveis do Nordeste após uma longa batalha política e fiscal na década de 1990 e virou um polo de desenvolvimento nos anos seguintes. O encerramento das atividades piorou o já frágil cenário para a economia da região, afetando especialmente o futuro dos prestadores de serviços que se estabeleceram no local para atender a operação.
O fechamento da fábrica impactou o comércio e o setor de serviços da cidade, sobretudo os ramos de educação e imobiliário. A prefeitura estima que, apenas em salários dos funcionários diretos da Ford e de sistemistas, cerca de R$ 20 milhões deixaram de circular mensalmente na economia local.
Instalada em bairro planejado que cresceu no entorno da fábrica, a loja de material de construção de José Edmílson Oliveira, 49, teve uma queda de 40% no faturamento em 2021: "A Ford agregava muitas empresas. Esse pessoal costumava comprar aqui".
Escolas e faculdades particulares, por exemplo, perderam alunos. O índice de desligamentos atingiu 50% em alguns cursos. O impacto foi tamanho que a prefeitura teve de abrir um refinanciamento de dívidas tributárias dos estabelecimentos de ensino.
"A massa salarial era injetada na economia local. Era um dinheiro que ia para consumo, para serviços e aluguéis dos imóveis onde funcionários da Ford moravam. Parte disso se perdeu", afirma o secretário de Governo de Camaçari, Helder Almeida.
Também houve um baque na arrecadação do município –apenas em tributos municipais, a perda foi de R$ 50 milhões por ano. Mas a redução de receita será ainda maior quando for recalculada em 2023 a distribuição da cota do município do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços), tributo recolhido pelo estado.
É mais difícil mensurar, no entanto, o impacto na vida das pessoas. Os milhares de funcionários demitidos tomaram diferentes rumos. Parte voltou para suas cidades de origem, outros montaram pequenos negócios e teve até quem usou o dinheiro da rescisão para comprar um carro e se tornar motorista de aplicativo.
Números calculados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) sinalizam que a indústria baiana foi atingida com força pela saída da montadora.
No acumulado de janeiro a outubro de 2021, a produção de veículos automotores, reboques e carrocerias despencou 94,6% no estado nordestino. O Brasil teve alta de 28,2% em igual intervalo.
Com o baque no setor automotivo, a produção industrial da Bahia, em termos gerais, foi puxada para baixo: houve queda de 13,1% até outubro.
É a maior retração, com folga, entre os 15 locais pesquisados pelo IBGE no ano. O segundo maior recuo na produção industrial, de 5,2%, foi registrado em Mato Grosso.
"A queda na Bahia está muito ligada ao fechamento da Ford", aponta o economista João Paulo Caetano, da SEI (Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia), vinculada ao governo estadual.
À época do anúncio do fechamento da montadora, o órgão projetava que o fim das operações em Camaçari poderia gerar um baque anual de cerca de R$ 5 bilhões para a economia baiana, o equivalente a 2% do PIB (Produto Interno Bruto).
Segundo Caetano, o valor exato das perdas só poderá ser calculado a partir da divulgação do PIB de 2021, o que ainda não ocorreu.
Estado busca interessados
O governo estadual afirma que, em 2021, a Bahia perdeu cerca de R$ 280 milhões em arrecadação com o encerramento das operações da montadora.
O cálculo leva em consideração o ICMS direto e o recolhimento ao Fundese (Fundo de Desenvolvimento Social e Econômico).
Para reparar os impactos, o governo tenta levar novos investimentos para Camaçari. A administração estadual indica estar em negociações com o setor automotivo, mas ainda evita citar nomes de companhias que teriam interesse em preencher o espaço deixado pela Ford.
"Todo o esforço do governo está sendo feito no sentido de atrair outra grande indústria para ocupar a área da Ford em Camaçari, pois esse é o modo mais direto e eficaz de neutralizar os efeitos da saída da empresa", diz o governo.
O estado também menciona que foi indenizado em R$ 2,1 bilhões pela Ford após o encerramento das operações, recursos que foram agregados ao orçamento em 2021.
Superintendente da Fieb (Federação das Indústrias do Estado da Bahia), Vladson Menezes considera que a mão de obra qualificada pode ser um chamariz para eventuais interessados em substituir a montadora. Mas isso, por si só, não é suficiente, diz.
Menezes entende que o estado precisa buscar avanços em áreas como infraestrutura, e incentivos fiscais serviriam para dar competitividade para a instalação de novos negócios, segundo ele.
Além disso, também é importante um ambiente político e econômico menos incerto no Brasil, o que fica mais complicado em ano eleitoral, avalia.
"Quanto mais esse processo demorar, mais difícil vai ficar a situação, porque as empresas sistemistas estão deixando de operar ou porque uma parte dos trabalhadores pode estar migrando para outros setores", afirma Menezes.
Procurada pela reportagem, a Ford não deu detalhes sobre o impacto em suas operações causado pelo fechamento das fábricas no Brasil. A empresa informou que "o mercado brasileiro ainda é um dos maiores da América Latina e, portanto, extremamente relevante para a Ford".
O anúncio de encerramento das atividades produtivas da Ford no Brasil, que completa um ano em 11 de janeiro, deixou rastro de desemprego, queda na produção industrial e baque em efeito cascata na economia de Camaçari. No início de 2021, a empresa também comunicou o fechamento das fábricas em Taubaté (SP) e Horizonte (CE), além da unidade baiana.
Camaçari abrigou a primeira indústria de automóveis do Nordeste após uma longa batalha política e fiscal na década de 1990 e virou um polo de desenvolvimento nos anos seguintes. O encerramento das atividades piorou o já frágil cenário para a economia da região, afetando especialmente o futuro dos prestadores de serviços que se estabeleceram no local para atender a operação.
O fechamento da fábrica impactou o comércio e o setor de serviços da cidade, sobretudo os ramos de educação e imobiliário. A prefeitura estima que, apenas em salários dos funcionários diretos da Ford e de sistemistas, cerca de R$ 20 milhões deixaram de circular mensalmente na economia local.
Instalada em bairro planejado que cresceu no entorno da fábrica, a loja de material de construção de José Edmílson Oliveira, 49, teve uma queda de 40% no faturamento em 2021: "A Ford agregava muitas empresas. Esse pessoal costumava comprar aqui".
Escolas e faculdades particulares, por exemplo, perderam alunos. O índice de desligamentos atingiu 50% em alguns cursos. O impacto foi tamanho que a prefeitura teve de abrir um refinanciamento de dívidas tributárias dos estabelecimentos de ensino.
"A massa salarial era injetada na economia local. Era um dinheiro que ia para consumo, para serviços e aluguéis dos imóveis onde funcionários da Ford moravam. Parte disso se perdeu", afirma o secretário de Governo de Camaçari, Helder Almeida.
Também houve um baque na arrecadação do município –apenas em tributos municipais, a perda foi de R$ 50 milhões por ano. Mas a redução de receita será ainda maior quando for recalculada em 2023 a distribuição da cota do município do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços), tributo recolhido pelo estado.
É mais difícil mensurar, no entanto, o impacto na vida das pessoas. Os milhares de funcionários demitidos tomaram diferentes rumos. Parte voltou para suas cidades de origem, outros montaram pequenos negócios e teve até quem usou o dinheiro da rescisão para comprar um carro e se tornar motorista de aplicativo.
Números calculados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) sinalizam que a indústria baiana foi atingida com força pela saída da montadora.
No acumulado de janeiro a outubro de 2021, a produção de veículos automotores, reboques e carrocerias despencou 94,6% no estado nordestino. O Brasil teve alta de 28,2% em igual intervalo.
Com o baque no setor automotivo, a produção industrial da Bahia, em termos gerais, foi puxada para baixo: houve queda de 13,1% até outubro.
É a maior retração, com folga, entre os 15 locais pesquisados pelo IBGE no ano. O segundo maior recuo na produção industrial, de 5,2%, foi registrado em Mato Grosso.
"A queda na Bahia está muito ligada ao fechamento da Ford", aponta o economista João Paulo Caetano, da SEI (Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia), vinculada ao governo estadual.
À época do anúncio do fechamento da montadora, o órgão projetava que o fim das operações em Camaçari poderia gerar um baque anual de cerca de R$ 5 bilhões para a economia baiana, o equivalente a 2% do PIB (Produto Interno Bruto).
Segundo Caetano, o valor exato das perdas só poderá ser calculado a partir da divulgação do PIB de 2021, o que ainda não ocorreu.
Estado busca interessados
O governo estadual afirma que, em 2021, a Bahia perdeu cerca de R$ 280 milhões em arrecadação com o encerramento das operações da montadora.
O cálculo leva em consideração o ICMS direto e o recolhimento ao Fundese (Fundo de Desenvolvimento Social e Econômico).
Para reparar os impactos, o governo tenta levar novos investimentos para Camaçari. A administração estadual indica estar em negociações com o setor automotivo, mas ainda evita citar nomes de companhias que teriam interesse em preencher o espaço deixado pela Ford.
"Todo o esforço do governo está sendo feito no sentido de atrair outra grande indústria para ocupar a área da Ford em Camaçari, pois esse é o modo mais direto e eficaz de neutralizar os efeitos da saída da empresa", diz o governo.
O estado também menciona que foi indenizado em R$ 2,1 bilhões pela Ford após o encerramento das operações, recursos que foram agregados ao orçamento em 2021.
Superintendente da Fieb (Federação das Indústrias do Estado da Bahia), Vladson Menezes considera que a mão de obra qualificada pode ser um chamariz para eventuais interessados em substituir a montadora. Mas isso, por si só, não é suficiente, diz.
Menezes entende que o estado precisa buscar avanços em áreas como infraestrutura, e incentivos fiscais serviriam para dar competitividade para a instalação de novos negócios, segundo ele.
Além disso, também é importante um ambiente político e econômico menos incerto no Brasil, o que fica mais complicado em ano eleitoral, avalia.
"Quanto mais esse processo demorar, mais difícil vai ficar a situação, porque as empresas sistemistas estão deixando de operar ou porque uma parte dos trabalhadores pode estar migrando para outros setores", afirma Menezes.
Procurada pela reportagem, a Ford não deu detalhes sobre o impacto em suas operações causado pelo fechamento das fábricas no Brasil. A empresa informou que "o mercado brasileiro ainda é um dos maiores da América Latina e, portanto, extremamente relevante para a Ford".
FOLHA