
A oposição anunciou uma comissão parlamentar de inquérito sobre o roubo nas aposentadorias. O Partido Liberal disse ter apoio formal de 171 deputados, pré-requisito para justificar uma CPI. A decisão sobre a comissão agora é do presidente da Câmara Hugo Motta.
Criação de CPI nunca é boa notícia para governo, qualquer que seja. Porém, no Palácio do Planalto e no Partido dos Trabalhadores há quem acredite que Lula até poderá se beneficiar de uma investigação parlamentar sobre roubalheira nas contas de sete milhões de aposentados e pensionistas — número estimado pelo próprio governo.
O argumento repetido é sobre a “chance” de divisão do ônus político com o governo anterior. Foi na administração do adversário Jair Bolsonaro, alega-se, que o INSS aceitou atuar como intermediário financeiro em benefício de entidades sindicais, agora sob suspeita de fraude bilionária nas aposentadorias e pensões.
Seria uma visão cândida, não fosse a preocupação que tenta dissimular. Dividir a culpa com a oposição pressupõe criar e manter uma comissão parlamentar de inquérito sob “controle” do governo. Bolsonaro tentou coisa parecida na CPI da pandemia. Deu no que deu.
Lula mantém prudente silêncio. Vai ser difícil convencê-lo de que é boa ideia submeter a confederação dos trabalhadores agrícolas (Contag) ou o sindicato dos aposentados (Sindnapi) a meses de devassa pública na Câmara. Na vice-presidência do sindicato está seu irmão mais velho, José Ferreira da Silva, 83 anos, conhecido como Frei Chico. E a dezena de entidades sindicais sob investigação policial mantém vínculos com partidos políticos, tanto governistas (PT e PDT) quando da oposição (Solidariedade).
Relevante é a corrosão política iniciada pelo noticiário sobre a roubalheira nas aposentadorias e pensões e que poderá ser acelerada por uma CPI. É um complicador no plano de Lula para a eleição do ano que vem.
Há alguma semelhança com um episódio de 20 anos atrás: em 2005, o caso do mensalão atrapalhou Lula na campanha de reeleição, mas ele venceu.
A diferença está na natureza da crise. O mensalão era um episódio de corrupção entre governo e partidos associados no manejo do orçamento e dos contratos de empresas estatais. O roubo na folha de pagamento de aposentadorias e pensões atinge diretamente indivíduos, na maioria socialmente vulneráveis e com renda média de até dois salários mínimos .
O caso é de interesse e tem repercussão garantida num público que o governo estima em 40 milhões de pessoas, todas com título de eleitor. É um segmento do eleitorado que há mais de três décadas está no foco de Lula, com promessas renovadas de reajuste de aposentadorias e pensões acima do índice oficial de inflação. Envolve uma agência federal, o INSS, de reputação questionável — há tempos mantém centenas de milhares de pessoas na fila de espera para acesso ao sistema previdenciário.
A melhor notícia para o governo seria o veto do presidente da Câmara à instalação de uma CPI sobre a roubalheira no INSS. Antigamente daria certo, mas hoje as chances são praticamente nulas. A culpa é de Bolsonaro. Ele manobrou no Senado para que a CPI da pandemia não saísse do papel. A oposição, capitaneada pelo PT de Lula, recorreu ao Supremo Tribunal Federal. Venceu.
Criação de CPI nunca é boa notícia para governo, qualquer que seja. Porém, no Palácio do Planalto e no Partido dos Trabalhadores há quem acredite que Lula até poderá se beneficiar de uma investigação parlamentar sobre roubalheira nas contas de sete milhões de aposentados e pensionistas — número estimado pelo próprio governo.
O argumento repetido é sobre a “chance” de divisão do ônus político com o governo anterior. Foi na administração do adversário Jair Bolsonaro, alega-se, que o INSS aceitou atuar como intermediário financeiro em benefício de entidades sindicais, agora sob suspeita de fraude bilionária nas aposentadorias e pensões.
Seria uma visão cândida, não fosse a preocupação que tenta dissimular. Dividir a culpa com a oposição pressupõe criar e manter uma comissão parlamentar de inquérito sob “controle” do governo. Bolsonaro tentou coisa parecida na CPI da pandemia. Deu no que deu.
Lula mantém prudente silêncio. Vai ser difícil convencê-lo de que é boa ideia submeter a confederação dos trabalhadores agrícolas (Contag) ou o sindicato dos aposentados (Sindnapi) a meses de devassa pública na Câmara. Na vice-presidência do sindicato está seu irmão mais velho, José Ferreira da Silva, 83 anos, conhecido como Frei Chico. E a dezena de entidades sindicais sob investigação policial mantém vínculos com partidos políticos, tanto governistas (PT e PDT) quando da oposição (Solidariedade).
Relevante é a corrosão política iniciada pelo noticiário sobre a roubalheira nas aposentadorias e pensões e que poderá ser acelerada por uma CPI. É um complicador no plano de Lula para a eleição do ano que vem.
Há alguma semelhança com um episódio de 20 anos atrás: em 2005, o caso do mensalão atrapalhou Lula na campanha de reeleição, mas ele venceu.
A diferença está na natureza da crise. O mensalão era um episódio de corrupção entre governo e partidos associados no manejo do orçamento e dos contratos de empresas estatais. O roubo na folha de pagamento de aposentadorias e pensões atinge diretamente indivíduos, na maioria socialmente vulneráveis e com renda média de até dois salários mínimos .
O caso é de interesse e tem repercussão garantida num público que o governo estima em 40 milhões de pessoas, todas com título de eleitor. É um segmento do eleitorado que há mais de três décadas está no foco de Lula, com promessas renovadas de reajuste de aposentadorias e pensões acima do índice oficial de inflação. Envolve uma agência federal, o INSS, de reputação questionável — há tempos mantém centenas de milhares de pessoas na fila de espera para acesso ao sistema previdenciário.
A melhor notícia para o governo seria o veto do presidente da Câmara à instalação de uma CPI sobre a roubalheira no INSS. Antigamente daria certo, mas hoje as chances são praticamente nulas. A culpa é de Bolsonaro. Ele manobrou no Senado para que a CPI da pandemia não saísse do papel. A oposição, capitaneada pelo PT de Lula, recorreu ao Supremo Tribunal Federal. Venceu.
Por José Casado/VEJA