|   Depois  de 10 meses tramitando no Supremo Tribunal Federal (STF), foi aprovado o  processo da chamada Lei da Ficha Limpa, que tem por objetivo principal  barrar candidatura de político condenado pela justiça ou que renunciou  ao mandato para não ser cassado, instituída por iniciativa popular, à  frente a Igreja Católica brasileira, através da Conferência Nacional dos  Bispos do Brasil (CNBB).   O  STF decidiu ainda, que a lei da Ficha Limpa já vale para as eleições  deste ano e ela se aplica a casos de renúncia de políticos a mandato  eletivo para escapar de processo de cassação, mesmo nas situações  ocorridas antes da vigência da lei.Essa  decisão da não aplicação da lei beneficiou diretamente vários  candidatos, cuja elegibilidade havia sido barrada por causa de processos  na justiça, como Jader Barbalho, Joaquim Roriz, Cássio Cunha Lima,  dentre outros. Aprovada agora, a Lei da Ficha Limpa já passa a valer a  partir das eleições municipais deste ano, independentemente do  dispositivo constitucional que trata da irretroatividade da lei penal. 
   Está  na nossa Constituição Federal que nenhuma lei pode retroagir para  prejudicar. Se não fosse uma Lei de iniciativa popular, dificilmente  esta Lei teria passado incólume perante a mais alta Corte judiciária do  país, seja em respeito ao princípio da irretroatividade da lei penal,  seja pelo reconhecimento da regra da anualidade da lei eleitoral. Por  outro lado, o Advogado Geral da União, Luiz Inácio Adams, o  Procurador-Geral da República, Roberto Gurgel, o Presidente Nacional da  OAB, Ophir Cavalcante, o Partido Popular Socialista, dentre outras  autoridades, defendem a constitucionalidade da lei, advogando também,  sua aplicabilidade a fatos ocorridos antes de 2012, quando haverá o  registro de candidatos as próximas eleições municipais.   O  problema para os candidatos, nos vários Estados e municípios, que estão  às voltas com as impugnações baseadas na Lei da Ficha Limpa era  conseguir uma posição do STF sobre seus processos, antes das eleições.  Com esta decisão, essas pretensões de candidaturas desestimularam-se e o  processo político-eleitoral voltou ao normal. Outra questão é que,  mantido o indeferimento, caso o candidato receba votos, estes não serão  computados nem mesmo para seu partido, o que poderá resultar em prejuízo  para os demais membros de sua agremiação partidária, porque poderá  influir negativamente no cálculo do coeficiente eleitoral.      Estão  na Constituição e no nosso Direito Constitucional, como um todo,  dispositivos que tratam da impossibilidade de se considerar culpado  alguém que ainda recorre da sentença que o julgou. Trata-se do princípio  da presunção de inocência, nítida e expressamente consagrada pela Lei  Maior. É também de matéria da mais alta importância para a manutenção do  Estado Democrático de Direito tão duramente conquistado em nosso país.   Poder-se-á  utilizar como argumento dos que defendem essa afronta à Carta Magna que  os recursos para os tribunais superiores não tratam de prova, tampouco  de matéria fática, que tem como última instância os tribunais regionais e  estaduais, já que os pretórios superiores e o STF apenas analisam  matérias atinentes à legalidade ou a constitucionalidade, conforme o  caso.   Mas  não é apenas isso, pois na situação em comento, a maioria dos Ministros  do Supremo Tribunal Federal deu constitucionalidade a uma lei de  iniciativa popular, acatada sobre pressão pelo Congresso Nacional e,  para isso, somou argumentos que serão por toda vida contestados pela  inconstitucionalidade da Lei da Ficha Limpa, uma vez que a Constituição  Federal fala expressamente em “trânsito em julgado da sentença penal  condenatória” para cogitar de culpa e, ainda se assim não fosse, devemos  respeito ao princípio constitucional que nos indica que “ninguém será  privado de sua liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal”.   Os  debates no STF se prenderam à lei que obteve o consenso da mídia, das  redes e organizações sociais, mobilização tecnológica, emenda popular e,  principalmente, à vontade do povo brasileiro, constitucionalmente  fundamentada na moralidade da vida política e socialmente sustentada.  Isso justificou a sua aprovação, sem que houvesse alteração de  dispositivos constitucionais como a irretroatividade e o direito  adquirido, atos jurídicos perfeitos e coisa julgada.   O artigo é do Deputado Federal Gonzaga Patriota (PSB-PE) |