No exemplo mais estridente, o do candidato Jair Bolsonaro (PSL), a
avaliação é que o economista Paulo Guedes funcionaria quase como uma
"Carta aos Brasileiros" em carne e osso, em uma referência ao documento
escrito pelo então candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para acalmar
os mercados em 2002.
Curiosamente, Guedes é o economista que menos
se dispõe a participar da maratona de entrevistas, debates e sabatinas
feita com os assessores.
Já há quem avalie, no entanto, que, após o
ataque sofrido por Bolsonaro em encontro com eleitores na quinta-feira
(6), a procura por Guedes deva explodir.
A exposição derivada do
atentado e a precificação do drama que envolve o candidato devem
contribuir para isso, diz um analista que optou pelo anonimato.
Bolsonaro
terceirizou as questões econômicas de sua campanha, e isso acabou
contribuindo para o maior protagonismo dos economistas das outras
campanhas, diz análise da XP Investimentos.
O destaque dado aos
assessores econômicos se justifica também porque há uma busca geral por
um candidato que dê perspectiva de futuro nessa área, embora o desafio
do ponto de vista de estratégia eleitoral seja traduzir as questões mais
técnicas para a sociedade, diz a XP.
Carlos Melo, analista político e
professor do Insper, diz que a tendência geral é pensar que os
problemas do país são derivados do mau momento econômico e que um grande
ministro da Fazenda resolverá tudo, daí o grande interesse pelos
economistas.
Segundo Melo, ao não conseguir se expressar nas questões
econômicas, Bolsonaro montou uma estratégia em que acabou definindo não
só o seu braço direito, mas o seu "primeiro-ministro".
O curioso é que, mesmo em menor intensidade, outros candidatos também correram atrás de seus "selos de qualidade".
"Geraldo
Alckmin [do PSDB] não é o Bolsonaro, mas precisa de Persio Arida, assim
como Marina Silva [da Rede], de André Lara Resende e do [Eduardo]
Giannetti", diz Melo.
O analista considera um equívoco a atenção
excessiva, em especial do mercado financeiro e de grandes empresários,
dada aos temas econômicos em detrimento, por exemplo, de uma necessária
reforma política.
Ele diz, porém, ser compreensível diante da urgência da questão fiscal, do crescimento pífio e de 13 milhões de desempregados.
Luiz Felipe D'Ávila, coordenador do programa de governo de Geraldo Alckmin (PSDB), concorda.
Segundo ele, as preocupações em torno das questões econômicas se destacam em um momento de recessão, o que é natural.
"A
apreensão com o emprego e com a renda atraem os holofotes para os
economistas, mas a reforma do Estado é mais importante", diz.
Os próprios assessores econômicos apontam o papel de destaque que desempenham no pleito.
"É
como se a gente fosse uma grife que começou com o Paulo Guedes sendo
escolhido pelo Bolsonaro", diz Ana Paula Oliveira, assessora econômica
de Álvaro Dias (Podemos).
Para Nelson Marconi, coordenador da
campanha de Ciro Gomes (PDT), a economia acabou assumindo um
protagonismo maior em razão da percepção de que a solução para os
entraves do país passa por um ajuste econômico.
"É claro que é
preciso ter uma estratégia política por trás de tudo isso, mas acho mais
importante a discussão em cima de temas econômicos do que de fofocas",
diz Marconi.
Guilherme Mello, economista da campanha do PT, diz que,
em meio à grave crise econômica, é natural que os economistas sejam
chamados para conversar.
"Mas acho engraçado que um candidato não
tenha conhecimento econômico e liderança suficientes e precise se
ancorar em uma figura até um pouco exótica, que é o economista, que não
tem a popularidade e o conhecimento do mundo político", diz Mello.
Embora
Mello e o economista Marcio Pochmann costumem falar em nome do PT,
fonte ouvida pela Folha garante que Fernando Haddad enfatiza em reuniões
fechadas que é sua a palavra final sobre economia.
Peça-chave nos
governos de Fernando Henrique Cardoso, Gustavo Franco, hoje no partido
Novo, diz que sempre houve um espaço privilegiado para os economistas
dos candidatos desde a redemocratização.
"Quando a disputa era mais polarizada, esse debate era mais restrito", diz.
A surpresa, aponta, é o nível de convergência dos debates.
"Todo
mundo está falando de reforma da Previdência e tributária, até mesmo a
esquerda. Há certo esforço para se diferenciar do consenso trazendo uma
pimentinha a mais na ideia, mas não difere muito do que todo o resto, o
que é muito bom." (Via: Folhapress)
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