Marta acompanha uma expedição da 
Fundação SOS Mata Atlântica, que começou na quinta-feira para monitorar a
 qualidade da água em diversos trechos do rio, seguindo seu rumo em 
direção ao encontro do São Francisco, por 356 quilômetros. 
O 
trabalho partiu do que o grupo denominou como “marco zero”, um ponto 
imediatamente anterior ao local onde a onda de rejeitos que desceu na 
barragem rompida encontrou o Paraopeba. Ali a água não estava tomada 
pela lama, mas já começava a ficar comprometida, com nível ruim. Uma 
medição anterior ao acidente dava o local como regular. Quase todos os 
demais pontos analisados, porém, já apareciam como péssimos, com exceção
 de apenas dois locais. 
O Estado acompanhou a expedição até a altura
 de Juatuba e se deparou o tempo todo com uma imagem marrom-avermelhada,
 densa, que em nada se parece com um rio que possa suportar alguma vida.
 Nas palavras de Malu Ribeiro, coordenadora do projeto, a água virou uma
 espécie de chocolate derretido ou ferro líquido.
Em um dos poucos 
pontos em que a qualidade foi identificada como ruim, em Juatuba, a 
equipe chegou a se empolgar com a presença de alevinos e alguns insetos.
 Parecia que a vida não tinha sido tão afetada. Mas foi uma falsa 
impressão. Nas margens do rio, nascentes limpas protegidas por uma fina 
faixa de mata ciliar serviam de proteção aos bichos. Mas já no meio do 
corpo d’água, os indicadores não deixavam dúvida. “A turbidez está em 
5.510, quando o máximo aceitável é 100. Não tem como chegar luz, não tem
 como ter vida”, afirmou Malu diante dos resultados.
Malu Ribeiro coleta amostra de água do Rio Paraopeba para análise Foto: Gaspar Nóbrega/Fundação SOS Mata Atlântica
Peixe
 podre. Em um outro ponto, no município de São Joaquim de Bicas, onde 
estão um grupo indígena “desgarrado” dos Pataxós da Bahia e um 
acampamento do 
MST, o cheiro de peixe podre prenuncia metros antes o cenário de devastação.
“A
 meu ver, isso aqui não é lama, rejeito, nada, é sangue”, disse, 
chorando, a agricultora familiar Antonia Aguilar Santos, de 61 anos, 
referindo-se às 121 vítimas do desastre. “Este rio significava muito pra
 gente. É onde a gente toma banho no calor. No almoço de domingo, quando
 os amigos vêm visitar, a gente descia com as comidas para a beira do 
rio e ficávamos lá. Fora a pesca, a água para as plantações…”
Índio Tahhão, da aldeia Naô Xohá Pataxó, mostra o rio tomado pela lama de rejeitos da Vale Foto: Giovana Girardi/Estadão
Tahhão,
 de 55 anos, que faz as vezes de guarda indígena, conta que o rio é 
fonte de peixes para a tribo. Uma prainha que se formou perto da aldeia 
acabou se tornando um local de celebrações e rituais e já é considerada 
sagrada para eles, apesar de ocuparem a região há apenas dois anos. 
“É
 que sem água não existe vida, então virou sagrado para a gente”, conta,
 quando nos aproximamos do local. Pelos seus cálculos, uns 300 quilos de
 peixes mortos já foram retirados da região desde que o rio foi 
contaminado pela lama.
Preocupação.
 Em seus mais de 500 quilômetros, o Rio Paraopeba abriga mais de 120 
espécies de peixes, agora ameaçadas pela lama. Como afluente do São 
Francisco, recebe muitos animais na piracema, período de reprodução dos 
peixes. “Algumas espécies podem se deslocar até 200 quilômetros”, 
explica o biólogo e consultor na área ambiental Carlos Bernardo 
Mascarenhas Alves.
A mancha de lama seguia meio devagar pelo 
Paraopeba, e os pesquisadores da expedição ainda não se arriscavam a 
dizer se ou quando vai chegar ao São Francisco, o maior temor do grupo. 
Mas nesta semana estão previstas pancadas de chuva todos os dias em 
Brumadinho e isso tende a acelerar o processo de dispersão. Uma chuva 
forte na quarta passada já havia diluído e empurrado os rejeitos para 
frente.
Uma observação interessante feita pela equipe da SOS Mata 
Atlântica é que o rejeito desse desastre está apresentando um 
comportamento diferente do que atingiu a região do Rio Doce há três 
anos. Se naquela época ele era mais fino e fica como que suspenso na 
superfície do rio, agora ele é mais denso e pode vir a sedimentar. Nas 
amostras coletadas, foi possível observar isso de um dia para o outro.
Em
 frascos de 50 ml, 5 ml eram de material decantado. "Quando pegamos a 
água parecia mesmo um chocolate e agora vemos uma clara separação da 
água e do sedimento", mostra Marta. "Do Rio Doce, tenho amostras até 
hoje que nunca decantaram. Isso traz uma perspectiva parcialmente 
positiva. Agora está tudo misturado, mas esse material vai acabar 
ficando no fundo do rio. Num primeiro momento, a vida que existe ali vai
 desaparecer. Mas depois uma camada de bactérias pode se formar sobre 
esse material e aos poucos poderá ter início uma vida totalmente 
diferente."
Como também não ocorreu um "tsunami" sobre o Paraopeba, 
como tinha acontecido com o Doce, a vegetação ao redor permanece, o que 
aumenta a capacidade de recuperação do rio. 
Por outro lado, pelas 
características do rejeito, a pesquisadora estima que ele pode aderir à 
mata ciliar. Nas amostras de vidro, foi possível perceber essa 
aderência, o que pode ir comprometendo essa vegetação ao longo do tempo.
 "Aí o impacto ambiental pode não ser tão chocante e visível, mas vai 
acontecer", explica.
Consumo. Por causa do rompimento da barragem em 
Brumadinho, o Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam) já alertou 
que a água não deve ser usada para consumo, o que impede a pesca também.
 Em alguns trechos atingidos pela lama, os órgãos ambientais já 
verificaram quantidades de metais como manganês, ferro e mercúrio acima 
das aceitáveis. /COLABOROU FABIANA CAMBRICOLI
*A REPÓRTER ACOMPANHOU A EXPEDIÇÃO COM APOIO RODOVIÁRIO E DE HOTEL DA SOS MATA ATLÂNTICA
EstadãoReproduzido por Blog Tv Web Sertão
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