Fabiana Maranhão/UOL Marciano Menezes da Silva, primeira pessoa a sobreviver à raiva humana no Brasil, posa para foto em Floresta
Em sua cadeira de rodas e com um sorriso largo, Marciano Menezes da Silva, 24, recebeu a reportagem do UOL na manhã do último domingo (14.01) em sua casa em Floresta, no sertão de Pernambuco, distante cerca de 430 km do Recife. Ele foi a primeira pessoa a sobreviver à raiva humana no Brasil, isso dez anos atrás. Um segundo caso foi registrado este mês no Amazonas.
Ele se curou da doença, transmitida pela mordida de um morcego e que leva à morte em quase 100% dos casos, mas até hoje convive com as sequelas: não anda, tem um desvio na coluna, dificuldade para abrir e fechar as mãos e para movimentar os braços, além de alteração na fala.
O jovem vive na zona rural. Cerca de 45 km de asfalto e 12 km de estrada de terra separam o centro da cidade e o sítio onde mora com a família. É lá que Marciano passa a maioria dos seus dias, saindo apenas para consultas médicas em Floresta ou no Recife.
Com uma cadeira de rodas motorizada, movida à bateria, que ganhou de doação há cerca de um ano, ele consegue ter um pouco de autonomia para se locomover em casa e depender menos de seus parentes.”Eu não esperava [ganhar a cadeira]. Me senti muito feliz. [Com ela,] posso andar para onde eu quero, sem precisar que alguém me carregue”, fala de forma pausada.
No entanto, o jovem ainda precisa de ajuda para outras ações cotidianas, como tomar banho e sair da cama para sentar na cadeira. “Mas botou na cadeira, ele se vira”, conta o pai, o agricultor João Gomes de Menezes, que tem outros sete filhos, além de oito netos.
Pela manhã, Marciano costuma passear pelo sítio, “olhar os bichos” e de vez em quando visita parentes que moram por perto. Depois do cochilo da tarde, ele não sai da frente da TV na sala: assiste a telejornais e acompanha várias novelas, sempre com um copo de café na mão. “Você é noveleiro?”, pergunto. “Sou!”, diz Marciano, caindo na gargalhada.
A rotina do jovem, que estudou até a antiga 7ª série do Ensino Fundamental, também inclui jogos de dominó com a família. “É um divertimento”. Apesar de jogar quase todo dia, ele não acredita que seja bom nisso.
À noite, nada de sair de casa, para evitar ser atacado novamente pelos morcegos que rondam o local. “Tenho medo”, fala. “A gente nunca pensou que um animalzinho desse podia causar isso”, lembra o pai.
Luta para sobreviver