Hélio Bacha, da Sociedade Brasileira de Infectologia: crítica ao tratamento e à prevenção
Há muitas mães que não fazem o teste ou o fazem no final da gravidez,
quando o feto já está desenvolvido, e milhares que não recebem os
medicamentos. Um informe do próprio Ministério da Saúde do início deste
mês retratou a situação calamitosa do abastecimento de penicilina no
País. Nos dia 28 e 29 de janeiro, o Departamento de Doenças Sexualmente
Transmissíveis, Aids e Hepatites Virais constatou que 60% das 27
unidades da Federação não tinham a penicilina benzatina. E a do tipo
cristalina faltava em todos os Estados.
O governo federal atribuiu o desabastecimento à falta mundial de
matéria-prima para a fabricação dos remédios, produzida na China e na
Índia. E que, embora a responsabilidade pelas compras seja dos Estados e
municípios, empenha-se em sanar o problema. Na semana passada, anunciou
a compra emergencial de 2,7 milhões de frascos da penicilina benzatina,
a serem entregues no mês que vem. “O desabastecimento criou uma
dificuldade a mais”, afirma Alberto Beltrame, secretário de Atenção à
Saúde, do Ministério da Saúde. Novamente, o que se vê aqui é o governo
correr atrás para tentar remediar uma tragédia já instalada. Há anos é
assim com a dengue e agora com a zika e a sífilis.
A sífilis é uma doença que pode ser evitada com o uso da camisinha, uma
vez que a principal via de transmissão é a sexual (inclusive por meio do
sexo oral). Desta maneira, sua prevenção exige o uso de preservativos
nas relações. Mais uma falha do governo. Além de não informar a
população sobre a doença e aprimorar os programas de planejamento
familiar, não promove campanhas de prevenção.
“Os dados são assustadores”
Secretário de Saúde de São Paulo, o infectologista David Uip afirma que a explosão da sífilis não ocorreu do dia para a noite
AVISO
David Uip: ''O poder público precisa intervir''
ISTOÉ – Por que a sífilis entre gestantes e bebês aumenta tanto no Brasil?
David Uip – Os dados são assustadores. Alerto para essa situação há algum tempo. Não é algo que aconteceu do dia para a noite.
David Uip – Os dados são assustadores. Alerto para essa situação há algum tempo. Não é algo que aconteceu do dia para a noite.
ISTOÉ – Quais as razões disso?
Uip – Há uma banalização em torno das doenças sexualmente transmissíveis. Estamos vendo o crescimento de muitas dessas enfermidades. As pessoas precisam usar o preservativo nas relações. E o poder público precisa intervir.
Uip – Há uma banalização em torno das doenças sexualmente transmissíveis. Estamos vendo o crescimento de muitas dessas enfermidades. As pessoas precisam usar o preservativo nas relações. E o poder público precisa intervir.
ISTOÉ – Com que tipo de ações?
Uip – É importante que o acompanhamento na gestação seja bem-feito, mas muitas grávidas não estão chegando ao pré-natal. No Brasil, 23% dos casos foram diagnosticados no terceiro trimestre de gravidez, o que significa que até então essas mulheres não tinham nenhuma assistência.
Uip – É importante que o acompanhamento na gestação seja bem-feito, mas muitas grávidas não estão chegando ao pré-natal. No Brasil, 23% dos casos foram diagnosticados no terceiro trimestre de gravidez, o que significa que até então essas mulheres não tinham nenhuma assistência.
ISTOÉ – Quais os outros problemas?
Uip – Muitas vezes a mulher faz o teste na primeira consulta apenas. Mas ela pode se contaminar durante a gestação. Dados indicam que 52% dos parceiros não foram tratados. Ou seja, a mulher continuava em risco. Além disso, em 16% dos casos as gestantes receberam tratamento inadequado. Tudo isso é muito preocupante.
Uip – Muitas vezes a mulher faz o teste na primeira consulta apenas. Mas ela pode se contaminar durante a gestação. Dados indicam que 52% dos parceiros não foram tratados. Ou seja, a mulher continuava em risco. Além disso, em 16% dos casos as gestantes receberam tratamento inadequado. Tudo isso é muito preocupante.
Fotos: iStock; João Castellano/ISTOÉ; Fabiano Cerchiari
FONTE: ISTO É INDEPENDENTE