A guerra que tirou o melhor dos ucranianos e de um presidente acidental


A guerra que tirou o melhor dos ucranianos e de um presidente acidental

Até 24 de fevereiro último, a Ucrânia era uma espécie de Rússia piorada: cheia de oligarcas, condescendente com a corrupção, pouco digna de crédito. Os pungentes protestos contra este estado de coisas não pareciam dar em nada e um presidente humorista, eleito como manifestação contra o sistema, tinha 27% de aprovação.

Os russos iam chegar e fazer a festa, cooptando dirigentes que falavam a língua desde criancinhas e se identificavam – ou podiam ser convencido$ a fazê-lo – com o vizinho gigantesco e dominante.

Volodimir Zelenski parecia perder tempo e gogó garantindo que nunca, de forma alguma a Ucrânia seria invadida.

Quando o foi, o mais importante fenômeno de 2022 desencadeou mudanças em série, com as quais continuaremos a lidar em 2023 e por um período ainda imprevisível.

Valores que pareciam pertencer ao passado, como patriotismo e defesa da identidade (e da integridade) nacional, levaram os ucranianos a resistir, num movimento uníssono, inesperado, eloquente por falar uma linguagem que todos podem compreender: não cederemos a um invasor, nem mesmo um que tenha armas nucleares.

O vídeo que Zelenski filmou depois dos primeiros bombardeios, com uma expressão que retratava a gravidade do momento, mas uma mensagem poderosa, fez toda a diferença. “O presidente está aqui”, disse ele, mostrando que também continuava lá um punhado de assessores, todos vestindo roupas verde oliva, o estilo que virou a marca registrada de Zelenski.

Enquanto russos faziam fila de entrada nos países que ainda aceitavam seus passaportes, ucranianos que estavam no exterior voltavam para defender a pátria. Muitos que não haviam sido convocados organizaram-se voluntariamente, improvisaram armas e passaram a integrar a defesa voluntária da pátria. As forças armadas mostraram que o treinamento, as armas e as informações fornecidas pelos Estados Unidos e aliados não estavam sendo desperdiçados.

A luta de Davi contra Golias revelou um gigante com pessoal mal formado, equipamentos canibalizados, estratégia equivocada e uma convicção desmentida pela realidade de que Kiev cairia em questão de dias, criando a partir daí fatos consumados irreversíveis.

Vladimir Putin diminuiu de estatura, parecendo um ditador de comédia satírica com suas mesas enormes e declarações insanas, insuflando os que transitam em sua órbita a falar em guerra nuclear, sabendo que este é o espectro que apavora a opinião pública dos países aliados. Vladimir Zelenski, o ator de 1,65 metro de altura, acusado pelos russos de liderar um bando de “nazistas drogados”, cresceu em estatura moral. Tornou-se, numa estratégia deliberada, um grande relações públicas e uma espécie de grilo falante, a voz da consciência que não deixa o mundo esquecer o que está acontecendo na Ucrânia.

Quanto tempo isso vai durar? Ele já deixou de ser uma novidade, não tem mais entrevistadores estrangeiros a quem falar e o golpe brilhante de propaganda que foi sua viagem secreta a Washington ainda precisa passar pelo teste de uma Câmara com um punhado de deputados da direita dura que, inacreditavelmente, gostam mais da Rússia de Putin do que da Ucrânia de Zelenski.

A guerra parece não se definir e Putin está esperando o General Inverno agir – não no campo de batalha, onde os russos têm a desvantagem de ser os invasores, mas na arena da opinião pública europeia, onde as contas de energia com aumentos estonteantes funcionam contra a solidariedade aos invadidos.

A Rússia continua a ter 20% do território ucraniano, detona diariamente a infraestrutura elétrica do vizinho, pode vender gás e petróleo a uma freguesia ávida nos países asiáticos, dispõe de capacidade de repor material, bélico e humano mesmo com a impopularidade da mobilização em massa. As contra-ofensivas ucranianas foram brilhantes, tirando do déspota do Kremlin o triunfo vazio da anexação “eterna” dos territórios à Rússia, mas não mudaram essa realidade.

Nenhum dos lados pode negociar um acordo de paz. Na hipótese, por enquanto inexistente, de que fizesse isso, Putin provavelmente seria varrido do mapa pela linha dura – e Zelenski também. Uma pesquisa do fim de outubro mostrou que 86% dos ucranianos são a favor de continuar a lutar contra os invasores, mesmo com as terríveis perdas em vidas – cerca de 100 mil, entre mortos e feridos em combate, segundo um dado relativamente confiável – e a destruição em massa de cidades e estrutura econômica.

“Vamos aguentar” é uma resposta praticamente unânime no país. E os aliados, aguentarão até quando?

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