
A estrutura seria monumental: ocupando um espaço de 21,5 mil metros quadrados, o Acquario seria dividido em subsolo, térreo e dois pisos superiores, com cinemas, túneis de observação submersos, simuladores de submarinos, elevador panorâmico da orla, 25 tanques de animais, esculturas, fontes e até um navio naufragado. A expectativa era abrigar 35 mil animais.
No mesmo ano, no dia 31 de maio, a FIFA anunciou Fortaleza como uma das cidades-sede da Copa do Mundo de 2014. O futuro Acquario, então, seria um dos cartões-postais com que os turistas iriam se surpreender ao visitar a capital cearense. O tempo era corrido, mas o governo bateu o martelo: a obra teria início em 2009, seria concluída em 2010 e estaria aberta ao público em 2011.
Quatorze anos depois e R$ 112 milhões gastos, o Acquario do Ceará é, hoje, um esqueleto de concreto acumulando água de chuva, cercado de tapumes, repousando de frente para o mar em um dos principais pontos turísticos de Fortaleza. As obras estão paradas desde 2017.
Na última sexta-feira de 2023, o governo do Ceará assinou um protocolo de intenção para doar o esqueleto do Acquario para a Universidade Federal do Ceará (UFC), que pretende transformar a área em um novo campus universitário para o Instituto de Ciências do Mar (Labomar).
O novo campus vai contar com um “aquário virtual” e espaço de exposição para visitantes. Conforme a UFC, a expectativa é que o Campus Iracema, como é chamado oficialmente, esteja pronto em 2026. Não há previsão de quando as obras vão começar.
A proposta pretende pôr fim à novela que envolve a construção do Acquario, alvo de disputas judiciais, embargos ambientais e protestos, e dar uma resposta aos moradores da região, que convivem há anos com o esqueleto de concreto.
É o caso de Maria do Rosário, moradora do condomínio Vila de Iracema, localizado em frente ao Acquario. Ela acompanhou o projeto desde a concepção e recorda como recebeu a notícia à época.
“O primeiro pensamento que a gente tem é que é um equipamento [o Acquario] que vai desenvolver o bairro, que vai trazer uma atividade para um lado do bairro da Praia de Iracema que não tem atividade turística muito intensa. A rua só tinha um prédio abandonado velho e um lixo dentro. Então a ideia de trazerem algum equipamento para cá parecia ser em primeira mão uma coisa fantástica. Eles nos convidaram para apresentar o projeto, falaram que ia gerar muito emprego para o pessoal que mora no entorno, e assim foi muito fantasioso, mas depois foi muito desastroso”, resume Maria do Rosário sobre o projeto anunciado há quase 15 anos.
A construção de um oceanário no Ceará foi apresentada em 2009, no primeiro governo de Cid Gomes, irmão do ex-ministro Ciro Gomes. A ideia foi levada à público pelo então secretário de Turismo, Bismarck Maia, hoje prefeito de Aracati, um dos principais destinos turísticos do Ceará.
O Acquario seria construído na rua dos Tabajaras, na Praia de Iracema, em um prédio abandonado do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs), que funciona em um terreno da Prefeitura de Fortaleza, e que foi desapropriado em um acordo entre o município e o governo estadual.
A obra teria três etapas:
- Demolição do prédio antigo do Dnocs, escavação, construção do novo alicerce e do esqueleto de concreto
- Instalação dos equipamentos aquáticos
- Instalação da cobertura do Acquario com o esqueleto de metal, conforme o projeto arquitetônico
O prazo, como um todo, era apertado: o governo queria lançar o primeiro edital, de construção da estrutura de concreto do Acquario, no dia 1º de abril, menos de dois meses após anunciar o projeto. A previsão era de concluir as obras em 2010 e ter o equipamento aberto ao público em 2011. A empresa vencedora do primeiro edital, a CG Construções, foi anunciada no dia 8 de novembro de 2009.
Folha de S.Paulo