Foram dramáticos os últimos minutos da jornalista Carla Vilhena como
apresentadora do Bom Dia São Paulo e do bloco paulista do Bom Dia
Brasil, na última sexta-feira.
Carla soube pela imprensa, na véspera, que deixaria o telejornal, que apresentava desde meados de 2010.
Na sexta, ela escreveu uma nota de despedida do público, mas foi
proibida pela direção de jornalismo da Globo, enquanto apresentava o Bom
Dia São Paulo, de ler o texto.
carla vilhena apresentadora globo
Abalada, Carla não conseguiu terminar sua participação no Bom Dia
Brasil. Na bancada, mas fora do ar, chorava tanto que teve de ser
substituída, às pressas, por uma moça do tempo. Foi embora sem levar
suas roupas e pertences, amparada por funcionários da Globo.
Desde ontem, o telejornal está sendo apresentado pela repórter Monalisa Perrone.
O jornalista Marco Aurelio Mello, ex-colega de trabalho de Carla Vilhena
e fundador do blog DoLadoDeLa, publicou texto em que se solidariza com a
apresentadora. Leia abaixo.
MINHA SOLIDARIEDADE À CARLA VILHENA
Por Marco Aurelio Mello
A nova direção de jornalismo da TV Globo parece que não gosta muito de
investir nas relações humanas. Nem mesmo o departamento de RH, que
deveria gerenciar “as emoções” consegue saber com antecedência o que
está acontecendo, para tomar medidas paliativas necessárias numa grande
corporação.
O choro copioso da querida Carla Vilhena, apresentadora do Bom Dia São
Paulo e do bloco local do Bom Dia Brasil, impedida de se despedir de
seus telespectadores na última sexta-feira, dá bem a dimensão da falta
de tato dos gestores.
Depois de saber pela imprensa que seria substituída na bancada pelo
correspondente em Nova Iorque, Rodrigo Bocardi, Carla, com a delicadeza
que lhe é peculiar, escreveu uma mensagem de despedida, mas a direção
proibiu-a de lê-la.
Abalada, Carla não conseguiu terminar sua participação e foi substituída
pela uma moça do tempo. Saiu do ar amparada por funcionários da Globo.
Trazer Rodrigo de volta para o Brasil com assento em uma bancada é um
movimento importante. O repórter, que teve carreira meteórica na
emissora durante o mensalão, faz com desenvoltura o jogo da casa. Quem
não se lembra da moedinha na pista do aeroporto de Congonhas, para
incriminar Lula pelo acidente da TAM, em julho de 2007?
Rodrigo é um bom sujeito. Trabalhamos juntos no Jornal da Globo, com Ana
Paula Padrão. Ele tinha vindo da Band, onde começou como coordenador de
telejornal, uma função burocrática. Teve a felicidade de fazer
jornalismo na Faculdade do Morumbi, onde a elite paulistana se encontra.
Fez amizade com os Saad, circula em altas rodas e conhece
detalhadamente a cartilha neolibelês.
Sonhava em ser editor de economia e pediu para que eu o apadrinhasse nesse sentido. Como acumulava
– para que testassem minha capacidade – as funções de editor de
política e economia do telejornal, cujo noticiário era majoritariamente
composto por esses dois temas, concorde,i e indiquei seu nome ao então
editor-chefe, Luiz Claudio Latgé.
Competente, logo Rodrigo caiu nas graças de toda a equipe, mas
alimentava em silêncio o sonho de ser repórter, o que no caso dele não
era difícil, porque tem boa estampa, boa voz e é muito bem relacionado.
Será muito bem teleguiado na nova função.
Depois de dois anos na bancada, Carla volta à reportagem. Passa a
engrossar o coro do Fantástico. Como apresentadora, a bela morena de
olhos azuis encantou o país no Jornal da Band, no fim dos anos 90.
Beleza, postura e voz eram tão marcantes, que foi convidada pela Globo
para ser apresentadora do Novo SPTV, em 1998.
Como na emissora a fila é grande, Carla ficou para lá e para cá, até que
conseguisse sua própria bancada num jornal de rede. Apresentou os SPTV,
os Bom Dias, o Jornal Hoje, o Fantástico e até o Jornal Nacional, nas
folgas dos apresentadores titulares. É o tipo de profissional de quem
não se ouve críticas, só elogios.
Torço para que ela supere a dor de ser cortada sumariamente, como já
aconteceu com tantos outros. Carla, o mundo não só aí. Um beijo no seu
coração.
Do Pragmatismo Político