Os números são oficiais, publicados pelo jornal A União em 15 de dezembro de 2012 e outros órgãos de imprensa:
“Dados da Polícia Rodoviária Federal revelam o registro de 192.188 acidentes, com 8.661 mortes, em 2011. Desse total, 7.551 (3,93%) acidentes e 345 (2,98%) mortes estavam associados à ingestão de álcool”.
Esses dados são reveladores de quão distorcidas podem ser as campanhas empreendidas pela mídia.
Se menos de 4% de acidentes, com menos de 3% de mortes, são causados por motoristas embriagados,
qual a causa dos restantes 96% de acidentes e mortes? Essa deveria ser a questão a ser discutida pela imprensa e pelos políticos, ávidos por mostrar serviço e dar respostas demagógicas. Talvez não queiram ver a precária estrutura viária, de responsabilidade do estado, a má formação dos motoristas, a impunidade dos que cometem infração.
Não tendo capacidade para resolver o problema, o estado, com instrumentalização da imprensa e dos políticos, exacerba a lei que já prevê punição para quem a desrespeita, estendendo-a a quem não comete infração. A lei de tolerância zero para a ingestão de álcool associada à direção é uma dessas campanhas histéricas empreendidas para impor mais um controle à população, de preferência rendendo boa grana ao estado.
Não se pode, é certo, aceitar a impunidade dos que provocam acidentes e mortes por causa da embriaguez. Esses devem ser responsabilizados e punidos pelo mal que causarem. No entanto, não se pode nivelar sob o rótulo de embriaguez o fato de se tomar uma cerveja, uma ou duas taças de vinho; alguém que, mesmo tendo ingerido pequena quantidade de álcool, sabe dos cuidados que deve ter ao conduzir seu veículo.
Essa campanha massiva de endurecimento da lei torna criminosos todos os que dirigem depois de ter bebido, mesmo que não venham a cometer acidente. A infração passa a ser a ingestão de bebida, sem níveis de tolerância. Moralmente, isso pega bem para os políticos e para a imprensa, que julga estar cumprindo papel social. Mas quem ganha com isso, mais que a sociedade, é o estado, com o controle policial que beira a extorsão.
Enquanto isso, fica a pergunta que não se quer ver: como será resolvido o real problema do trânsito no país (de que falamos acima)? Os 96% não bebem, mas fazem uma farra!
HENRIQUE MAGALHÃES - Jornalista e professor do curso de Comunicação em Mídias Digitais da UFPB (
henriquemais@gmail.com)