O jornal russo Pravda publicou, nesta segunda-feira, um artigo expondo as possíveis opções e posições ideológicas e táticas da Rússia quanto à crise na Ucrânia. Leia abaixo:
Aconteceu algo absolutamente importante, imenso, há poucos minutos, na Rússia: O Conselho Russa da Federação - equivalente ao Senado dos EUA - acaba de aprovar POR UNANIMIDADE uma resolução que autoriza Putin a usar as forças armadas da Rússia na Ucrânica, pedido que o Parlamento já havia encaminhado antes.
Antes da votação, os senadores russos bufavam de fúria, disseram que Obama ameaçou a Rússia, insultou o povo russo e que exigiam que Putin retirasse dos EUA o embaixador russo. Nunca, em toda a minha vida, vi tamanho nível de ultraje, de indignação, até de fúria, na Rússia, como hoje.
Esperi e rezo para que Obama e seus conselheiros parem e pensem cuidadosamente o próximo passo, porque, que ninguém se engane: a Rússia está pronta para ir à guerra. (continua...)
Mas atenção: a Resolução do Conselho da Federação não significa, repito NÃO SIGNIFICA que mais forças russas se movimentarão para a Ucrânia. Políticos chaves russos já falaram e esclareceram que tudo que aconteceu é que, agora, Putin tem plena autoridade legal para usar as forças armadas. Mas que é livre para decidir quando e onde serão necessárias, e se serão necessárias.
OK. Mas é sinal ao qual todos devem prestar muita atenção e que é preciso analisar com máxima seriedade. Do modo como vejo as coisas, não significa apenas que a Rússia agirá para proteger a Crimeia, mas, também, que há possibilidade real de que a Rússia use suas forças armadas em outros pontos da Ucrânia. Esse, sim, é desenvolvimento muito, muito importante.
Nesses últimos dias, tenho ouvido muitos especialistas russos, assistido a muitas entrevistas, declarações políticas, etc. e chamou-me a atenção o fato de que ninguém sequer sugeriu que a Russia deve intervir militarmente. Todos concordam que a Rússia deve apoiar os falantes de russo na Ucrânia, politicamente, financeiramente e moralmente. Mas ninguém jamais mencionou o uso da força. Assim sendo, o que terá acontecido de ontem para hoje?
(1) Algum tipo de ataque contra a Crimeia, durante a noite;
e
(2) mais ameaças absolutamente imbecis, temerárias, idiotas, de Obama, contra a Rússia.
E essa combinação disparou a correspondente reação. Agora, todos os partidos políticos (TODOS) representados no Conselho da Federação Russa e cada deputado e senador presente já votou a favor de a Rússia usar TODAS as suas forças armadas.
É o equivalente de o presidente dos EUA ser informado de que TODOS os deputados da Câmara e TODOS os senadores do Senado votaram a favor de ele ordenar o início de uma guerra.
Outra coisa que preciso deixar bem clara aqui: não há ameaça capaz de deter o Kremlin agora. Ameaças, agora, só tornarão ainda mais decidida a reação popular de apoio a Putin.
E se algum aspirante a Napoleão ou a Hitler decidir tentar usar força militar contra a Rússia, a Rússia irá a guerra - e não importa quem se oponha nem quem apareça no campo oposto.
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EUA e União Europeia têm de entender que cometeram temeridades máximas, que foram muito além do admissível, na Ucrânia:
- mobilizaram neonazistas para derrubar governo corrupto e incompetente, sim, mas governo legítimo. E, no processo, destruíram todo o aparelho do estado ucraniano, deixando correr solta a mais ensandecida violência, e todos os slogans mais racistas, que enfureceram totalmente todo o leste e o sul da Ucrânia.
E agora, ou atacando ou permitindo que alguém ataque a Crimeia, eles ameaçaram diretamente população russa e a Frota do Mar Negro.
Aí está mais um DESASTRE TOTAL, DESASTRE ABSOLUTO, do governo Obama.
Esse homem tem de desonesto o que tem de medíocre, arrogante, temerário, irresponsável. Espero e rezo para que os comandantes do Estado-maior Conjunto dos EUA tenham com ele, o mais rapidamente possível, uma "troca franca de pontos de vista". Num mundo ideal, o Congresso já o teria tirado da presidência por impeachment, doido, desprezível perdedor. Mas, dado que o Congresso é ainda pior que Obama, resta, como única saída, que o Comando Conjunto do Estado-maior das Forças Armadas aja.
Os russos estão unidos, estão realmente furiosos e sabem que têm força militar suficiente para defender o próprio país e o próprio povo, imediatamente. Não recomendo que ninguém duvide da capacidade da Rússia, porque, se o país for atacado, a resposta será devastadora: pense no 8/8/2008[1], mas em vasta escala.
Acho que um desastre pode ser e será evitado. Espero até que o exército russo não entre na Ucrânia. Mas os EUA têm de conseguir conter tanto o governo já instalado em Kiev quanto os bandos fascistas nas ruas e fazê-los 'esfriar'. O passo necessário seguinte é conseguir que os fascistas parem de tentar tomar prédios públicos no leste e no sul da Ucrânia. Por fim, EUA e Rússia têm de conseguir montar algum acordo que permita que a Ucrânia sobreviva formalmente como estado unitário, mas a converta em confederação de-facto, com presidência apenas simbólica.
O líderes de EUA e da União Europeia têm de entender que estão brincando com fogo e que esse não é um "problema ucraniano": agora, estão todos sob o risco de acabar em guerra contra a Rússia - e essa guerra pode, é claro, ser nuclear. E, ainda que jamais tenham de admitir publicamente, que tenham a coragem, pelo menos, de admiti-lo para eles mesmos que criaram toda essa situação. A responsabilidade é deles, integralmente. Leia também:
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Imagem: Reprodução/Telegraph
Lígia Ferreira
Folha Política