Essa descoberta foi possível utilizando análise de DNA ambiental para identificar uma variedade de plantas empregadas em rituais cerimoniais na quadra esportiva da antiga cidade maia de Yaxnohcah, no México.
Durante a construção da quadra há cerca de 2 mil anos, os maias provavelmente realizaram oferendas, buscando a proteção divina. A descoberta foi documentada em um artigo publicado na revista PLOS ONE em 26 de abril.
A pesquisa, conduzida pela Universidade de Cincinnati (UC) em colaboração com o Instituto Nacional de Antropologia e História do México (INAH) e outras instituições, revelou a presença dessas plantas no solo da praça, onde os maias praticavam o jogo de bola.
Abençoar campos de bola
Era comum entre os maias realizar oferendas durante a construção de edifícios, uma prática que refletia sua crença de que tais rituais tornavam os locais habitáveis e protegidos pelos deuses.
Esses eventos religiosos frequentemente envolviam a inclusão de cerâmicas, joias e plantas com significado cultural e usadas para fins curativos.
David Lentz, professor da UC e líder do estudo, explica que, quando construíam novos edifícios, buscavam a benevolência dos deuses para proteger os ocupantes. Alguns chamam isso de ‘ritual de encarnação’, buscando bênçãos e apaziguando os deuses.
Lentz e sua equipe exploram as antigas culturas mesoamericanas usando técnicas avançadas de identificação de DNA ambiental, revelando como os maias antigos utilizavam esses espaços para rituais e cerimônias.
Ao longo dos anos de 2016 a 2022, a equipe conduziu escavações em uma pequena área de um campo de bola.
Surpresa
Os especialistas expressaram surpresa ao identificar as plantas, já que materiais perecíveis raramente se preservam em climas tropicais.
Entre as espécies identificadas estava uma variedade de Ipomoea, conhecida como “xtabentun”, utilizada em rituais de adivinhação e reconhecida por suas propriedades alucinógenas, e pimentas empregadas para tratar e afastar doenças.
Os pesquisadores também encontraram evidências da árvore Hampea trilobata, cujas folhas serviam para envolver alimentos durante cerimônias.
Ainda, os maias usavam a casca dessa planta para recolher as fibras e aplicar na tecelagem de cestos e também na produção de medicamentos. Dessa forma, ajudavam a tratar picadas de cobra.
Além disso, identificaram evidências da presença da planta Oxandra lanceolata, cujas folhas oleosas são famosas por suas propriedades vasodilatadoras, anestésicas e antibióticas.
O fato de encontrarem essas quatro plantas para abençoar os campos de bola, que têm uma importância cultural reconhecida para os maias, em uma amostra concentrada, sugere que foi uma coleção intencional e com um propósito específico dentro deste contexto, observa Eric Tepe, botânico e professor do Colégio de Artes e Ciências da UC.
Os pesquisadores sugerem que os antigos maias também desenvolveram sistemas de filtração de água e adotaram práticas de manejo florestal visando à conservação.
No entanto, eles enfrentaram desafios durante períodos de secas prolongadas e podem ter contribuído para o desmatamento extensivo em suas áreas agrícolas.
Vida ou morte
Essa busca por abençoar os campos de bola tinha um propósito curioso. Isso porque os antigos maias participavam de uma variedade de jogos, incluindo o “pok-a-tok”, uma espécie de fusão entre futebol e basquete.
Neste jogo, os jogadores tentavam fazer a bola passar por um anel ou aro fixado em uma parede. No entanto, nem todos os campos de bola possuíam esses aros, observa David Lentz.
O pesquisador menciona um mito maia famoso envolvendo gêmeos heróis que precisam jogar uma partida de bola com os deuses para escapar do submundo. Em alguns relatos, sugere-se que os competidores eram sacrificados ao término do jogo.
Em cidades maias antigas como Tikal, na Guatemala, abençoar os campos de bola fazia sentido, uma vez que a construção acontecia exatamente ao lado dos templos principais.
Inclusive,
o pesquisador Lentz destaca que as quadras ocupavam posições
proeminentes no centro cerimonial. Por isso, eram uma parte integral da
cidade. (Via Fatos Desconhecidos)
Fonte: Revista Galileu