Nem todo mundo está convencido de que ele terá sucesso.“Os
mercados financeiros estão subestimando a dificuldade do Bolsonaro para
criar uma base de governo sustentável”, disse Ricardo Lacerda, sócio e
presidente da BR Partners, um banco de investimentos em São Paulo.
Lacerda apóia
João Amoêdo,
banqueiro e candidato do Novo Partido, que atrai contribuições da
comunidade financeira, mas continua em sétimo lugar nas pesquisas, de
acordo o Ibope e o Datafolha. Lacerda admite que seu apoio a Amoêdo o
coloca na minoria, já que a maior parte de seus pares fez as pazes com
Bolsonaro.
Bolsonaro, ex-capitão do Exército, ocupa o primeiro lugar nas pesquisas que excluem o ex-presidente
Luiz Inácio Lula da Silva,
que está na prisão lutando contra acusações de corrupção. Lula, de
longe o candidato mais popular, foi impedido de concorrer pelo Tribunal
Superior Eleitoral na sexta-feira e seu partido, o PT, disse que vai
recorrer da decisão. Lula se opõe a reformas consideradas fundamentais
para manter as contas fiscais brasileiras sob controle, segundo os
banqueiros.
A relação entre a dívida e o Produto Interno Bruto do
Brasil deve chegar a cerca de 100 porcento em 2023, de acordo com o
Fundo Monetário Internacional, em comparação com 84 porcento no ano
passado. Era de 60,2 porcento em 2013.
Bolsonaro ganhou apoio
generalizado no Brasil dizendo que ele afrouxaria as restrições às armas
de fogo e daria mais poder à polícia. As autoridades deveriam ter armas
mais letais, de acordo com Bolsonaro, que defende que aqueles que matam
criminosos devem receber medalhas, não irem a julgamento. A mensagem
ressoa forte em um país onde 63.880 pessoas foram assassinadas no ano
passado, mais do que em qualquer outro lugar do mundo.
Raiva Pública“O
apelo que o Bolsonaro tem junto ao público em geral está relacionado à
raiva contra os políticos tradicionais e contra a corrupção”, disse
Silvio Cascione, analista sênior do Eurasia Group para o Brasil. “As
pesquisas mostram que ele é apoiado principalmente por homens da classe
média e alta.”
Cascione disse que Bolsonaro o convenceu durante a
campanha de que está realmente comprometido com as reformas e com o
estímulo ao investimento estrangeiro, embora o candidato “pareça
contraditório às vezes”, como quando ele defende limites às aquisições
no Brasil por firmas chinesas.
Os banqueiros também têm dúvidas
quanto à personalidade de Guedes, que eles dizem ser menos adequada ao
trabalho em equipe necessário no governo e na formação de coalizões para
promover as reformas. Eles preferem o principal assessor econômico de
Alckmin, Persio Arida, ex-chairman do Banco BTG Pactual e um respeitado
economista que, segundo eles, ajudaria a atrair mais autoridades
talentosas para o governo.
Alckmin já provou sua capacidade de
gerenciar orçamentos depois de 15 anos como governador do Estado de São
Paulo, disseram os banqueiros. Ele também é do PSDB, um dos maiores
partidos brasileiros, e conta com o apoio do chamado “Centrão”, o que é
fundamental para garantir a aprovação de reformas.
Habilidades não testadasBolsonaro,
por outro lado, nunca esteve no governo e não tem experiência em
negociação. Sua capacidade de formar alianças também não foi testada.
Ele foi membro de pelo menos oito partidos políticos e nunca liderou
nenhum deles. Para esta eleição, ele é um candidato pelo pouco conhecido
Partido Social Liberal, ao qual se juntou em março.
“Bolsonaro teria
um relacionamento difícil com o Congresso, mas, no final, ele também
conseguiria aprovar as reformas de seguridade social”, disse Cascione,
do Eurasia. “Ele só levaria mais tempo para isso e os resultados finais
seriam mais fracos.”
Cascione considera que Bolsonaro tem uma chance
de 60 porcento de passar para o segundo turno das eleições em 28 de
outubro. Ele disse que a popularidade de Lula deve ajudar seu
companheiro de chapa no PT, Fernando Haddad, a passar para o segundo
turno também, com uma chance de 60 porcento. Ainda assim, a eleição
continua muito incerta. Pesquisas do Ibope que incluem Haddad em vez de
Lula sugerem que até 38 porcento dos eleitores estão indecisos, vão
votar branco ou anular seu voto.
Os banqueiros disseram que a vitória
de Lula ou Haddad seria o pior cenário, por causa de suas propostas
para novos impostos sobre os ricos e sobre os bancos que não reduzirem
juros que cobram em empréstimos. Um governo do PT provavelmente também
promoveria mais intervenção estatal na economia, o que poderia levar a
mais gastos e um maior déficit público, dizem os banqueiros.
Ciro
Gomes, o candidato do PDT, é outra possibilidade indesejável, disseram
os banqueiros, citando sua proposta de impostos sobre dividendos
corporativos e planos para renegociar as dívidas dos Estados.
Alta do dólarOs
investidores já deixaram claro sua antipatia por Lula e Haddad. O real
perdeu 11 porcento em relação ao dólar desde 3 de agosto, depois que as
pesquisas mostraram que o apoio de Lula estava crescendo e que Alckmin
continua fraco em intenções de voto.
Outra candidata, Marina Silva,
ganhou apoio de alguns dos banqueiros entrevistados, que elogiaram sua
equipe econômica e o conselheiro André Lara Resende, que foi presidente
do BNDES em 1998. Silva, candidata do partido Rede Sustentabilidade,
apoiou o candidato do PSDB Aécio Neves na eleição de 2016 contra a
ex-presidente Dilma Rousseff.
Mas com Marina em segundo ou terceiro
lugar nas pesquisas, os banqueiros decidiram que suas chances não são
tão boas quanto as de Bolsonaro. Essa é a mesma razão pela qual alguns
dos aliados de Alckmin, incluindo muitos políticos, também estão
começando a abandonar o navio. Um banqueiro disse que Alckmin terá que
se mostrar capaz de subir nas pesquisas durante as duas primeiras
semanas de setembro, pois, caso contrário, vai ficar sozinho no barco
afundando.
A última esperança para Alckmin é a campanha de TV que começou na sexta-feira, dizem os banqueiros.
Do Exame
Reproduzido por Blog Tv Web Sertão